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Os pais que dedicam tempo aos
filhos, mesmo quando não é solicitado por notório mau comportamento, apercebem-se
por necessidades de disciplina subtis, a que responderão com insistência,
reprimenda, crítica construtiva ou elogia, ministrados com sensatez e afeto.
Observam como os filhos comem bolo, como estudam, quando dizem pequenas
mentiras, quando fogem dos problemas em vez de os enfrentar. Dedicarão tempo a
fazer estas pequenas correções e ajustes, ouvindo os filhos, respondendo-lhes,
apertando um pouco aqui, fazendo pequenas preleções, contando-lhes histórias,
dando-lhes pequenos abraços e beijos, pequenos ralhetes, palmadinhas nas
costas.
A qualidade da disciplina ministrada
por pais que amam é superior à disciplina de pais que não amam. Mas isto é
apenas o princípio. Ao disporem do tempo para observar e pensar sobre as
necessidades dos filhos, os pais que amam com frequência se angustiam quanto a
decisões a tomar e, num sentido muito real, sofrem juntamente com os filhos. Os
filhos não estão cegos em relação a isto. Apercebem-se quando os pais estão na
disposição de sofrer com eles e, embora possam não corresponder com a gratidão
imediata, aprenderão igualmente a sofrer. “Se os meus pais estão na disposição
de sofrer comigo, “dirão a si próprios, “o sofrimento não pode ser assim tão
mau, e eu tenho de estar disposto a sofrer comigo mesmo”. Este é o princípio da
autodisciplina.
O tempo e a qualidade do tempo que
os pais lhes dedicam indicam às crianças o grau de avaliação que os pais lhes
atribuem. Alguns pais que basicamente não amam, na tentativa de encobrir a sua
falta de afeto, fazem frequentes declarações de amor aos filhos, em que lhes
dizem, repetitivamente e mecanicamente, como os apreciam, mas não lhes dedicam
tempo de elevada qualidade. Os filhos nunca se deixam enganar totalmente por
tais palavras ocas. Conscientemente, podem agarrar-se a elas, querendo
acreditar que são amados, mas, subconscientemente, sabem que as palavras dos
pais não condizem com os seus atos.
Por outro
lado, as crianças verdadeiramente amadas, embora possam, em momentos de
ressentimento, sentir conscientemente ou proclamar que estão a ser
negligenciadas, no subconsciente sabem que são apreciadas. Este conhecimento
vale mais que ouro. Quando as crianças sabem que são apreciadas, quando se
sentem verdadeiramente apreciadas no fundo do seu ser, sentem-se válidas.
O sentimento de ser válido – “Sou
uma pessoa válida” – é essencial à saúde mental e um pilar de autoestima. É um
produto direto do amor parental. Essa convicção deve ser adquirida na infância;
é extremamente difícil adquiri-la na idade adulta. Inversamente, quando os
filhos aprendem a sentir-se válido a através do amor dos pais, é quase
impossível que as vicissitudes da vida adulta lhes destruam o espírito.
Esse sentimento de ser válido é um
pilar da autoestima porque, quando nos consideramos válidos, tomamos conta de
nós de todas as formas necessárias. A autodisciplina é autoestima.
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M. Scott Peck O caminho menos
percorrido Sinais de fogo
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