Para levar a sério os primeiros exames do 4.º ano, criou-se uma logística
que anda perto do caos
Quando o ministro da
Educação, Nuno Crato, anunciou em Março de 2012 que os alunos do 1.º ciclo
iriam fazer exames como os outros, no final do 4.º ano, toda a gente estava
longe de imaginar que isso implicaria um cenário caótico. No entanto, foi esse
mesmo cenário que anteontem esteve em discussão nas reuniões entre
representantes das direcções escolares e do Júri Nacional de Exames. Os exames
finais do 1.º ciclo vão, ao que ontem se soube, obrigar muitos alunos dos 2.º e
3.º ciclos a ficar em casa para que os do 1.º possam prestar as respectivas
provas nas escolas-sede dos agrupamentos. E os exames, talvez para mostrar que
são levados mesmo “a sério”, são revestidos do mesmo secretismo e solenidade
dos que possibilitam o acesso ao ensino superior: os alunos são concentrados
nas sedes dos agrupamentos e as provas têm de ser entregues, no próprio dia,
por soldados da GNR (as provas de aferição dispensavam, como se sabe, tais
rituais). Isto para o final do 1.º ciclo não será aburdo? Não faria mais
sentido transformar as provas de aferição em exames, com a mesma função e
conveniência, mas sem tal encenação? Mantendo os alunos nas suas escolas, mas
com um outro tipo de controlo e vigilância? O disparate, que ainda não tem contornos
definitivos, chegou a incluir a proposta, essa quase insultuosa, de obrigar os
alunos do ensino privado a fazer exames no público, passando às escolas do
ensino particular e cooperativo um atestado de incompetência. Seja como for,
nos dias 7 e 10 de Maio (ou seja: dentro de muito pouco tempo), quando os
alunos do 4.º ano forem fazer exames pela primeira vez (a Português e a
Matemática), as escolas vão andar num rodopio para resolver o imbróglio
logístico criado por decisões impreparadas e tomadas de ânimo leve. Resta saber
o que sairá de tais exames, num país onde a crise afecta cada vez mais o meio
escolar e onde o abandono precoce das escolas ainda ronda os 23%, segundo os
recentes dados do CNE.
Público de hoje
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