Tirado daqui |
“Viemos ao mundo para dar nome às coisas:dessa forma nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós”.
(Lya Luft)
Qualidade é um substantivo inerente ao ser humano e a seus afazeres. O ofício de educar,
como outros, pressupõem a qualidade, gerada na satisfação e na conquista de
aprendizagens protagonizadas por educadores e educandos. O prazer maior nas
relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo
útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. O educador é um
dos maiores interessados em qualidade na educação, pois esta sempre carrega
potenciais para sua satisfação (o fracasso dos educandos também representa o
seu fracasso).
Quem ganha
com a desqualificação da educação pública? Quem ganha quando os professores e
professoras não são tratados com a dignidade que merecem? Quem goza de alguma
vantagem quando os alunos de nossas escolas saem delas sem as mínimas condições
de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele?
É incrível:
quando a sociedade se mostra disposta a debater qualidade na educação, os
professores/as são atacados e apontados responsáveis pelo insucesso escolar. E
o que é mais grave: as peculiaridades de seu ofício começam a ser entendidas
como privilégios e não como direitos. E professores que lutam para ampliar ou
manter seus direitos são duramente penalizados.
Por acaso
professores e alunos estão sendo consultados para a avaliação dos processos
educativos nos quais são os principais sujeitos? Para avaliarmos a educação,
precisamos legitimidade nos processos avaliativos, a partir de acordos e
convencimentos capazes de promover o envolvimento dos sujeitos nas realidades
avaliadas. Seres humanos não são passivos como os produtos e suas ações e
atitudes sempre remetem à sua liberdade.
Rubem Alves,
quando discute “Qualidade em educação”, lembra que “a educação, na medida em
que lida com a vida das pessoas e a vida do país, deve ser a área mais
rigorosamente testada e é preciso que seja excelente. Entretanto, é aquela em
que os testes são mais difíceis e as avaliações, vestibulares e provões quase
nada significam: nada garante que a qualidade, medida por critérios acadêmicos
numéricos, consiga passar os testes que a vida impõe”.
Alves afirma
que as avaliações escolares sempre são anunciadas com a intenção de “consertar
a máquina” (a estrutura dos sistemas de ensino). E logo responde: “eu, ao
contrário, acho que não há nada de errado com a máquina. Não há o que
consertar. Acontece que os alunos, mais precisamente os corpos dos alunos – tem
também seus mecanismos de “controle de qualidade”. Se eles não aprendem é
porque os seus corpos reprovam a máquina. Seus corpos vomitam o que a máquina
lhes enfia goela abaixo. O resultado do “examão” seria a prova disso”. E
pondera ainda que nosso corpo só aprende dois tipos de conteúdos: os que dão
prazer e os que levam ao objeto de prazer (aqueles com razões para serem
aprendidos). “A máquina funciona como deve. O problema é que a comida que ela
serve é imprópria para a inteligência”.
Faz bom
tempo que os educadores/as reclamam qualidade. Faz tempo que apontam imprópria
a “comida” que os governos lhes servem (precarização das condições de trabalho,
retirada de direitos e penalizações para quem luta). E isto fere suas
inteligências. Por isso pedem um favor: não chamem de inteligência o que se faz
na gestão da educação pública. É muito indigesto e está longe de gerar prazer.
E já seria ousadia demais!
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