Biografia aqui |
Houve, em tempos, na TV, um trio de mal-dizer com enganoso sucesso inicial.
Era constituído por Medina Carreira, João Duque e Nuno Crato. Este foi o
primeiro a desertar: passou a gestor, depois a ministro. Que tem feito desde
então? Tem banido professores e vai impondo o seu “eduquês” à Educação. Quatro
exemplos apenas: — Começando pela parte terminal de um processo (o do
ensino-aprendizagem), convencido de que “avaliar” é “examinar” e de que está aí
a panaceia universal, aumentou o número de provas de exame (como o dos alunos
por turma) e tenciona continuar. — Paladino da quantificação (é matemático!),
vai submeter os pequenos aprendizes de leitura a tabelas com sucessivos mínimos
de palavras por minuto (mínimos de carácter eliminatório). — Decidiu que, já em
Maio próximo, as crianças do 4º ano terão de ser deslocadas para fazer os seus
primeiros exames em escola/colégio diferente da/ do que frequentam (problema de
desconfiança nas vigilâncias? Leia o artigo de Ana Maria Bénard da Costa no
PÚBLICO de 20/3). — Determinou que os alunos do 12º ano passem a ser examinados
sobre a totalidade dos conteúdos leccionados no decurso dos três anos do
secundário, evidenciando (o ministro) uma enorme ignorância ou uma régia
indiferença perante a “brutalidade” das matérias programáticas em causa (a de História,
por exemplo, abrange nove volumes do compêndio mais divulgado e um total de
1610 páginas!).
Nuno Crato costuma recordar, com orgulho, o seu Liceu Pedro
Nunes. Foi também o meu, há muitos anos. Encontrei aí dois dos três melhores
professores que tive, em todo o meu percurso académico: Jaime Leote e Rómulo de
Carvalho (o terceiro foi Augusto Abelaira, noutro liceu). Tinham, além de um
imenso saber, uma infinita capacidade de entender e de comunicar. Eram
humanistas, tolerantes, atentos às pessoas, às diferenças, ao presente, ao
futuro. Não uns pequenos entes anacrónicos, fixados no pior do passado no
ensino: o enciclopedismo e o rigorismo (em vez do rigor). Se esses professores
ainda estivessem entre nós, como avaliariam o desempenho do ministro? A tolerância
tem limites.
Maria José Heitor Cortesão professora, Almada
(Público de 11-04-2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário