Kurt Levin cunhou uma frase que se tornou um lugar comum, mas nem por isso menos interessante e verdadeira “Se quiseres entender uma instituição tenta modificá-la”.
Todos nós que trabalhamos em Educação sabemos da importância e da
verdade desta frase: quando se procura mudar algo começamos a
compreender a anatomia do poder, os circuitos da decisão e sobretudo os
valores em que as antigas decisões se alicerçavam.
Muito sabemos sobre o caráter conservador da escola. Nós os professores
sabemos que esta sua característica é quase um código genético. A escola
assumiu a missão de ensinar, de transmitir e de inculcar valores com um
mandato – real ou só percebido – da sociedade. Portanto, quando se
tenta mudar algo na escola, sobretudo se beliscar mesmo que
tangencialmente esta missão anunciada, irá haver, por certo, problemas e
conflitos.
A questão da “mudança” que, como dizia Luis de Camões, “já não se muda
(nem ela) como soïa” nas escolas oferece-me oportunidade para três
pontos de reflexão.
O primeiro é a quantidade de professores que se queixam que querem mudar
a escola mas ela (e os seus colegas) não permitem. Quase não conheço
nenhum professor que não se identifique como um “profissional bloqueado”
nas suas boas ideias e ansia de mudança. A pergunta é inevitável: Se
tanta gente quer mudar MESMO a escola porque é que não se muda MESMO? Há
muitas possibilidades de resposta e certamente todas elas com hipóteses
de serem corretas. Por exemplo: “Não se muda porque não se quer
realmente mudar: só se fala”, “As pessoas que gostam de mudar
interpretam a mudança como uma cruzada pessoal e não como uma empresa
coletiva”. Será?
O segundo ponto de reflexão é sobre o que é que se quer mudar. Muitos
professores não estão de acordo com a forma como as turmas são feitas,
como o currículo é dado, como é feita a organização do trabalho escolar,
com as estratégias que se usam na sala de aula, como os processos de
avaliação, etc. etc. Se não estão de acordo propõem mudanças sobre estes
mesmos aspetos? A pergunta é pertinente porque muitas vezes o desacordo
não se situa em elementos pedagógicos essenciais mas em questões de
pormenores sobre relações humanas, e interesses pontuais. Talvez não
seja possível mudar “tudo” mas isso não nos deve desencorajar de começar
por fazer alguma coisa.
O terceiro ponto de reflexão tem a ver com o respeito que a nossa
profissão nos deve merecer. Não raro tenho assistido a conversas em que
outros técnicos – por vezes bem inexperientes e imaturos – tecem
considerações sobre o conservadorismo da escola e dos professores. O que
choca é que estes imberbes técnicos recolhem abundantes concordâncias
de alguns professores. Vamos lá ver: se a escola é conservadora, não é
só por causa dos professores. Diríamos até que existem forças sobre a
escola que gostariam que ele fosse ainda mais conservadora e igual aos
“bons (?) velhos tempos”.
Nós queremos entender a escola. Nós queremos mudar a escola.
David Rodrigues
Presidente da Pró-Inclusão: ANDEE
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