O presidente
da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono alertou hoje para
a falta de horas de sono das crianças e disse que as dificuldades económicas
contribuem para o aumento dos casos de perturbações no sono, sobretudo ligadas
a depressão ou situações de ansiedade.
"Nos
últimos tempos tem-se observado um aumento da prevalência de casos de
depressão, ansiedades, de dificuldades de sono" entre os adultos e, quando
se geram estes problemas relacionados com a crise, a tendência é que
"perdurem durante algum tempo e se tornem uma doença crónica",
referiu Miguel Meira e Cruz.
(...) o
especialista sublinhou também a falta de regras para dormir no caso das
crianças. "Há muitas crianças que, pela permissividade dos pais ou por
doenças relacionadas [com o ato de dormir] estão privadas do sono e, por isso,
desenvolvem patologias no âmbito da hiperatividade, problemas de
desenvolvimento e crescimento", realçou.
A situação
de crise, com a preocupação e ansiedade dos adultos aliada à falta de tempo,
"está com certeza a ter consequências" também no sono dos miúdos e
"é muito frequente os pais não se preocuparem em controlar os hábitos [de
dormir] dos filhos", frisou o investigador do Laboratório de Função
Autonómica Cardiovascular da Faculdade de Medicina de Lisboa.
O
especialista falava (...) a propósito do Dia Mundial do Sono, que se assinala
na sexta-feira, uma data que a associação vai aproveitar para organizar várias
ações informativas sobre a importância de um bom sono e da identificação de
doenças relacionadas.
O conjunto
de atividades arrancou na segunda-feira e prolonga-se por toda a semana,
principalmente em escolas, para chegar às crianças e adolescentes. A Associação
também pretende sensibilizar os profissionais de saúde, primeiro contacto com
os doentes, para a importância de obter informações sobre a qualidade do sono
dos portugueses.
"Cresce
o número de doentes com insónia, caracterizada pela dificuldade de dormir, não
conseguir manter o sono durante a noite, acordar cedo demais ou ter um sono
pouco reparador. A insónia, que muitas vezes é temporária, numa situação
normal, num tempo de crise como aquele que estamos a atravessar, perdura
durante algum tempo e torna-se uma doença crónica", alertou o
investigador.
Miguel Meira
e Cruz realçou a necessidade de ensinar aos miúdos a importância do sono, por
exemplo, ao nível do desenvolvimento, explicando:"A hormona do crescimento
produz-se durante a noite, enquanto estão a dormir".
Quando
questionado acerca do número de horas de sono adequado para as crianças, o
especialista disse que varia de caso para caso. "Há miúdos que precisam de
dormir nove horas, outros 10 horas, há um mínimo que o organismo preciso para
recuperar e isso é individual". O problema é que "este mínimo, muitas
vezes, não existe porque as pessoas cada vez estão acordadas até mais
tarde", alertou.
"Temos
um relógio biológico muito assertivo e quando não cumprimos as exigências para
que estamos preparados naturalmente há avarias e desregulações várias nos
sistemas do organismo", explicou o especialista, salientando que "o
sono é um hábito que deve ser regular" nos adultos e nas crianças e
implica um treino.
O
investigador avançou que, o mínimo de horas de sono para a criança entre os
seis e 12 anos estar alerta, bem-disposta e para aprender é de cerca de 10
horas por noite, o que "raramente é cumprido" pois muitos pequenos de
seis anos dormem sete horas ou sete horas e meia.
Nesta idade,
a privação de sono "está associada a défices neurocognitivos", como
dificuldades na aprendizagem, "perturbações muitas vezes confundidas com
hiperatividade e défice de atenção", disse.
In: Sol
online
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