Daniel Sampaio – estratégias para combater o bullying
O artigo do psiquiatra
Daniel Sampaio, com o título IMPOTÊNCIA DAS ESCOLAS, que foi
publicado na Revista 2 do Jornal Publico, no domingo passado:
"No PÚBLICO de 13 de Fevereiro, sob o título
“Indisciplina”, as escolas declararam-se “impotentes para lidar com alunos
problemáticos”.
Há muito que, nesta coluna, alerto para a indisciplina
nas nossas escolas básicas e secundárias. Registo o número impressionante de
aulas que não são dadas por problemas de comportamento, as manifestações de
desrespeito para com professores, o bullying nas suas diversas formas e,
acima de tudo, a desmotivação crescente de alunos e professores. Tal como fiz
no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues, dei morte rápida ao novo Estatuto do
Aluno (EA), mais uma vez um amontoado de considerações elaboradas em
gabinete ministerial, sem qualquer conhecimento da realidade das nossas
escolas.
O artigo do PÚBLICO vem confirmar as minhas suspeitas:
responsáveis de escolas, dirigentes de associações de pais e vários professores
denunciam a completa ineficácia do EA: o “balanço surge claramente negativo”.
Por ex., a tão “inovadora” medida de multar os pais nunca foi realizada, porque
as escolas tiveram o bom senso de nem sequer a propor. As “equipas
multidisciplinares” referidas no articulado do EA são dadas como inexistentes
na maioria das escolas. As comissões de protecção são descritas como não tendo capacidade
de resposta porque, apesar do grande esforço que fazem, não têm meios adequados
à dimensão do problema.
A morte dramática de um vigilante numa escola de
Matosinhos, chamado a intervir para tentar resolver uma situação de grave
indisciplina de um aluno “problemático”, trouxe para a ordem do dia esta
questão. Mas tardam soluções e impressiona o silêncio do Ministério da Educação
(ME) sobre este problema.
Que fazer, perguntam pais e professores, já que aos
alunos ninguém pergunta nada, nem eles se organizam para propor algo de
construtivo.
Eu começaria por pensar cada escola. Começaria pelos
alunos, organizando uma assembleia de delegados de turma e uma comissão de
alunos interessados em dinamizar uma campanha sobre o combate à indisciplina e
violência no espaço escolar (tenho a certeza de que, em todas as escolas, há
alunos interessados). Depois, alargaria a influência das associações de pais,
criando um sistema rotativo de ida à escola todas as semanas, para reunir com
professores e alunos, de modo a conhecer bem a realidade e ter o compromisso de
intervir sobre pais ausentes, chamando-os a participar.
Alargaria a presença da Escola Segura, chamando-a a
colaborar com a comissão de alunos e director da escola. Voltaria a estruturar
gabinetes de educação para a saúde, abandonados de forma irresponsável por este
ME. Esses espaços de intervenção, dinamizados por professores/coordenadores com
formação, teriam um papel importante na solução dos problemas de indisciplina e
violência, e articulariam com as estruturas de saúde, com relevo para a saúde
mental. Quanto aos professores, organizaria estágios em escolas com sucesso no
combate à indisciplina e lutaria por acções de formação ministradas por
docentes com prática na questão (e não académicos teóricos). Chamaria a
comunicação social para divulgar boas práticas, pedindo parcimónia — mas não
censura — na divulgação das situações de violência.
Nada disto me parece impossível de realizar, com
empenho de todos e apoio do ME e Ministério da Saúde. O que não se pode é
continuar a pensar que nada de grave se passa."
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