(…)
Quando uma criança ingressa no sistema de ensino, traz
já uma herança que a diferencia das outras. Dificuldades nos primeiros anos do
ensino básico deveriam ser imediatamente sinalizadas e intervencionadas. Mas se
a saúde e a proteção de menores não derem uma resposta atempada, adequada no
foco e na intensidade, os problemas persistirão. A experiência do terreno
mostra que o acesso a tratamentos de saúde mental escasseia no país e as
medidas de proteção dos menores pecam muitas vezes por serem demasiado brandas
ou chegarem tarde (quando chegam!). Quantos profissionais ou equipas existem
capazes de intervir sobre famílias no desenvolvimento de competências de
parentalidade? E quantos técnicos devidamente qualificados estão disponíveis
para intervir com os alunos, procurando atenuar as diferenças e ultrapassar as
dificuldades?
A generalidade das estratégias adotadas para reduzir o
insucesso passa por maior tempo de aulas ou estudo acompanhado, por
intervenções e pelo encaminhamento para currículos alternativos. São
encaminhados para currículos profissionalizantes alunos que não revelam
dificuldades cognitivas mas que levarão consigo os mesmos problemas de
regulação emocional e comportamental que manifestavam anteriormente. Este
amadorismo reinante e a ausência de técnicos qualificados que auxiliem a escola
na intervenção com alunos “difíceis” têm levado ao recurso a uma série de
estratégias que, em vez de promoverem a adesão do aluno à escola, mais parecem
contribuir para acentuar a diferença, a alienação da escola e, a longo prazo, a
exclusão.
(…)
O ensino profissionalizante não deve repetir o que
acontece atualmente com muitos alunos de cursos CEF, que só foram encaminhados
para esta modalidade devido a problemas comportamentais ou motivacionais. A
escola deveria saber lidar com alunos problemáticos e malcomportados. Não pode
continuar a resolver as dificuldades encaminhando-os para modalidades de ensino
percecionadas como mais fáceis. Menos ainda legitimar tomadas de decisão
apressadas com base na crença de que estamos a preparar bem estes jovens para a
vida. Qual vida?
(Daniel Rijo, Público de hoje)
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