quarta-feira, 6 de março de 2013

“FINJAMOS QUE SABEMOS FINGIR” (Alfredo Luna Santiago)*


Muitos de nós conhecem este famoso poema de Pessoa: “O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente/.” É pena que a cultura deste país não lhe possibilite perceber que muitas pessoas com cancro — e outras doenças graves — são também fingidoras, mas num outro sentido: é que fingem tão completamente que fingem não ser dor a dor que deveras sentem. Não é uma frase tão literária e profunda quanto a de Pessoa, mas não deixa igualmente de ser verdadeira. Por isso, da próxima vez que me perguntarem “Como vais?”, não direi que tenho cancro, sobretudo se estiver com “bom ar”. Direi, como quase toda a gente está à espera que se diga: “Tudo óptimo!” E “pronto”.
(Laura Ferreira dos Santos,Público de hoje, ed. digital) 

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