Muitos de nós conhecem este
famoso poema de Pessoa: “O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente/ Que
chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente/.” É pena que a cultura deste
país não lhe possibilite perceber que muitas pessoas com cancro — e outras
doenças graves — são também fingidoras, mas num outro sentido: é que fingem tão
completamente que fingem não ser dor a dor que deveras sentem. Não é uma frase
tão literária e profunda quanto a de Pessoa, mas não deixa igualmente de ser
verdadeira. Por isso, da próxima vez que me perguntarem “Como vais?”, não direi
que tenho cancro, sobretudo se estiver com “bom ar”. Direi, como quase toda a
gente está à espera que se diga: “Tudo óptimo!” E “pronto”.
(Laura Ferreira dos Santos,Público de hoje, ed. digital)
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