Uma mãe inconformada fez chegar a questão à Provedoria de Justiça – um
aluno com dislexia deve ou não ter direito à leitura, por um professor,
dos enunciados dos exames nacionais de Português e de Matemática do 9.º ano.
I - A resposta do Júri Nacional de Exames (JNE) é “não”, mas os especialistas consideram que depende do grau de dificuldade com que se debate a criança.
II - A mãe de Constança
alega que a filha sempre teve aquele apoio, que lhe foi dado, inclusivamente,
quando realizou as provas de aferição do 6.º ano. A mãe, citada pela Lusa, insiste, que
“é a mesma coisa que tirarem os óculos a um míope no exame”.
III - “Um defeito neurológico é mais difícil de
conceptualizar, porque é um defeito escondido, mas o problema está lá. E há
situações em que uma criança não consegue ler ou não é capaz de entender o que
está a ler, mas sabe responder perfeita e correctamente se a pergunta for feita
oralmente ”, explica Lobo Antunes, que defende que a decisão de permitir a
leitura dos enunciados de exame “deve ser tomada caso a caso, com base em
pareceres técnicos, independentes”.
IV - Na mesma linha, Ana Paula Vale, autora do primeiro
estudo sobre a prevalência da dislexia em crianças portuguesas em idade escolar
(que revelou que 5,4% têm este problema), frisa que “não se pode generalizar a
resposta”. “As crianças com dislexia podem e devem aprender a ler, pelo que um
aluno com dislexia ligeira a moderada, em princípio, pode fazer as provas com
os apoios concedidos pelo ME”, diz ao PÚBLICO.
V - Marcelino Pereira, investigador da Faculdade de
Psicologia da Universidade de Coimbra e coordenador da Consulta de Dislexia
naquela instituição tem uma visão diferente. Considera que, em princípio, “um
aluno que chegou ao 9.º ano de escolaridade está capaz de ler e interpretar o
enunciado de qualquer prova, desde que lhe seja dado o tempo extra”. Leonor
Ribeiro, Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação e coordenadora do
Núcleo de Dislexia do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil, frisa, no
entanto, que “é precisamente por as provas serem lidas" que muitas das
crianças com este problema “conseguem ter êxito académico”.
VI - Leonor Ribeiro, Técnica Superior de Educação Especial e
Reabilitação e coordenadora do Núcleo de Dislexia do Centro de Apoio ao
Desenvolvimento Infantil, frisa, no entanto, que “é precisamente por as provas
serem lidas" que muitas das crianças com este problema “conseguem ter
êxito académico”.
VII - Albino Almeida, presidente da Confederação das
Associações de Pais (Confap)(…) diz admitir “que um ministro até tenha o poder
para determinar que uma criança que não domina a leitura e a interpretação não
deve seguir para o secundário”, mas frisa que “não pode ser assim”. “Isso tem
de ser legislado e não vertido numa informação do JNE “, diz, criticando também
o facto de a decisão ter sido anunciada durante o ano lectivo, “provocando a
ansiedade de pais, alunos e professores”.
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