Pesquisador
português, que participa nesta semana de congresso em São Paulo, fala da
importância da avaliação de docentes para a qualidade do ensino
"As pessoas não gostam de ser
avaliadas. Nós, por natureza, gostamos de avaliar os outros, mas quando somos o
objeto dessa avaliação reagimos mal e resistimos", diz Alexandre Ventura,
pesquisador português responsável pela implementação do sistema de avaliação de
docentes em Portugal. Ventura, que está no Brasil para participar do maior
evento de educação da América Latina, o Educar/Educador, que será aberto nesta
quarta-feira, em São Paulo, concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA.
Como são feitas as avaliações ao redor do mundo? Ainda existe uma heterogeneidade entre
os modelos. Na França, a avaliação é feita pela equipe pedagógica da escola. Na
Inglaterra, o responsável é o diretor da escola, e avaliadores externos também
são treinados para a avaliação. Em Portugual, são os próprios professores que
avaliam uns aos outros. Não existe um consenso sobre qual modelo funciona
melhor. Eu diria que um modelo bastante eficaz seria o que misturasse
avaliadores externos e internos. Mas trata-se de uma alternativa onerosa e
pouco utilizada.
Como desenvolver uma avaliação eficaz? O aspecto essencial é que ela seja
justa e eficaz. É preciso transparência nos objetivos para que isso desperte
confiança por parte dos professores. É preciso também que ela não se baseie em
um único aspecto do desempenho do professor. Isso costuma ser tentador para
muitas escolas: avaliar apenas o plano de aula dos docentes ou apenas a maneira
como eles se portam na sala de aula. Isso só não basta. Por outro lado,
corre-se o risco de avaliar muitas coisas e, ao final das contas, não se
avaliar nada. É preciso ter a medida certa ou o caldo desanda. Por fim, é
preciso treinar bem os avaliadores, sejam eles agentes externos ou internos da
escola.
O que fazer com os resultados dessas
avaliações? Em
primeiro lugar, só faz sentido levar a cabo a avaliação de desempenho dos
professores se ela vier para enriquecer a prática docente e, consequentemente,
a educação. Fazer da avaliação um fim em si mesma é prejudicial. Neste caso, é
melhor não ter avaliação alguma. O objetivo essencial é encorajar a melhoria de
professores e escolas. Aqueles que são bons, precisam ser ainda melhores; aqueles
que estão aquém do desejado, precisam encontrar suporte para melhorar suas
práticas. Em última instância, defendo o afastamento de alguns profissionais
que, por uma série de fatores, não podem ser professores. Insistir em ter essas
pessoas na sala de aula é prejudicar o desenvolvimento do país.
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