Não invejo
quem dorme descansado, nem quem consegue voltar as costas a um quarto
minguante. Deito-me às escuras a olhar para a lua, levanto-me da cama, sento-me
na varanda e fecho os olhos. Ouço alguns carros passar, grilos, cigarras, um
gato, pássaros cujo nome desconheço, concentro-me mais um pouco e quase me
sinto tentado a jurar que ouço a lua. Escuto a sua saturação, um lamento
desprezível que me apresso a anotar num caderno. Logo sou interrompido pelos
ossos fracos da cama. E escrevo: amo a lua a desnascer, invejo seu
rumorejar, queria tanto poder regressar a onde de nunca parti e aí me refazer,
porque é triste este não me suportar sem ter como deixar de o ser. Rasuro o
que escrevo porque me entedia o tom, já não suporto esta lamúria que me
persegue como um eco e me deixa desconfortável porque me reduz à sombra que
arrasto pelos dias. Volto a concentrar-me na lua e penso, assim é que está
certo: ela lá em cima, eu cá em baixo e o mundo a dormir à nossa volta.
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