Por
Kátia Catulo
Investigadores
defendem que as medidas de combate à pobreza são mais eficazes que as políticas
educativas para combater as desigualdades
Porque
é que nas regiões de Lisboa, Porto ou litoral estão os melhores alunos? E
porque é que nas regiões autónomas, no Alentejo ou no Interior Norte estão os
estudantes com as piores classificações? Um estudo publicado ontem sugere que
os recursos disponíveis nas escolas fazem parte da resposta e pesam tanto como
o contexto familiar ou as características próprias dos alunos.
A
investigação “Diferenças Regionais no Desempenho dos Alunos Portugueses”,
publicada com o boletim económico de Inverno do Banco de Portugal, usa os dados
da OCDE de 2009 para tentar perceber que impacto têm as desigualdades regionais
no desempenho escolar dos alunos. À partida, é de esperar que as regiões com
melhor nível de vida e com maiores índices de habilitações das famílias, como é
o caso de Lisboa ou Porto, sejam também aquelas onde se concentram os melhores
estudantes. Mas o que este estudo sugere ainda é que a influência da escola é
tão decisiva como os pais ou as características dos alunos.
Procurando
perceber em que medida as características das escolas explicam as diferenças
regionais – Lisboa foi usada como região de referência –, os investigadores
concluíram que ter mais ou menos recursos nas escola pode contribuir
significativamente para o rendimento académico. Essa relação é particularmente
forte no Norte Interior, no Baixo Alentejo e no Centro Interior, onde os
“baixos recursos educativos” contribuem para os piores resultados escolares.
Tanto a Matemática como a Leitura – duas competências avaliadas no estudo da
OCDE – foi possível concluir que um aluno com o mesmo contexto familiar e a
frequentar uma escola com características similares teria um desempenho pior
nas regiões autónomas e no Norte Litoral que nas restantes regiões portuguesas.
Outra
conclusão do estudo é que a maior ou menor rede de escolas numa determinada
região parece influenciar também o rendimento. No Porto e no Centro Litoral,
aliás, a oferta de escolas parece aumentar a desigualdade no desempenho
académico entre os alunos.
Os
autores concluem que proporcionar às famílias maior oferta de escolas poderá
ter ainda assim efeitos contraditórios. Por um lado, pode aumentar a segregação
entre bons e maus alunos, conduzindo a uma maior concentração dos melhores
estudantes em certas escolas; por outro, uma maior escolha pode também criar
incentivos para subir a produtividade das escolas e ao mesmo tempo alargar o
conjunto de escolhas para os estudantes mais desfavorecidos.
As
escolas, contudo, não explicam por si só as desigualdades observadas. Os
autores, aliás, defendem que a melhor forma de combater as diferenças no
desempenho dos alunos passa sobretudo por promover políticas de combate à
pobreza. “Para alterar os padrões globais de desigualdade, as políticas que
incidam sobre a pobreza e as questões sociais tenderão a ter mais sucesso que
as políticas focadas exclusivamente em questões educativas”, remata o
documento.
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