Num tempo de
mutação intensa como este que vivemos, a Educação está “na berlinda”. E é fácil
entender porquê: a Educação é certamente a área social em que mais se manifesta
o que nós pensamos do futuro. Pensar em Educação, isto é, do que queremos que
sejam, saibam e tenham as gerações futuras, é um desassombrado retrato do que
nós queríamos ser e do que nós sonhamos para a sociedade do futuro.
Penso que as
representações sociais sobre a Educação se balizam entre estes dois postes: a
nossa experiência (que rejeitamos ou que pelo contrário queremos reproduzir) e
o modelo de sociedade em que nós pensamos que a Educação do futuro se irá
mover.
Lembro a
sábia frase de uma mãe de um aluno com uma condição de deficiência que dizia
que era muito fácil saber qual deviam ser as aprendizagens atuais do seu filho:
bastava para isso saber o que ele teria necessidades de saber quando tivesse 25
anos…
Este
equilíbrio entre o que devia ser e o que é, constitui uma chave importante para
se entender muitos dos discursos que se manifestam sobre a Educação. Por um
lado ouvimos as loas à Educação: a sua importância, o seu papel central na
sociedade, a sua carga de futuro o seu caráter imprescindível. Mas não nos
devemos iludir demasiado com estas hipérboles. Lembremo-nos por exemplo da
excelente retórica dos grandes educadores da Primeira República que, apesar de
colocarem a escola no “santo dos santos “ da sociedade, não foram capazes de
lhe dar um conjunto mínimo de condições para que os grandes princípios se
materializassem numa efetiva educação popular, laica, universal e
gratuita.
De certa
maneira isso se passa hoje em dia. Ninguém desvaloriza o papel da Educação e
isto parecem boas notícias… Onde as notícias começam a não ser tão boas é
quando vemos que apesar destes tão generosos princípios, o investimento
político na Educação não é consequência destes tão altos voos.
Darei sobre
este assunto só dois exemplos: na portaria 275 A (a que a revista na nossa
Associação dedicou no último número uma aturada atenção) as pessoas que podem
ser agentes educativos são pessoas sem formação na área da Educação Especial.
Assim, no momento em que se acentua o desemprego de pessoas que investiram
milhares de horas e de euros na sua formação, são-nos dados sinais que essa
competência não é necessária.
Outro
exemplo é a quebra de professores nas escolas. Num sistema educativo com as
caraterísticas do português, é essencial que a escola aumente ou mantenha
níveis de enquadramento e de apoio que lhe permita atender de forma equitativa
todos os alunos.
São
conhecidas as opiniões que clamam que é preciso cortar, cortar e cortar na
Educação. Para isso se agitam dados e números de outros países europeus ou da
OCDE.. É uma comparação imprudente e desinformada. Mas se é para comparar vamos
comparar a sério: teremos os cortes na Educação quando ficar muito claro onde
está, quem beneficiou do dinheiro que devia estar a servir para educar as
nossas crianças, o nosso futuro.
É que se
fala muito de buracos financeiros mas gostávamos de saber onde está a terra que
falta no buraco. Só para a podermos ir recuperar…
David Rodrigues
Presidente
da Pró-Inclusão-
ANDEE
In:
newsletter
da 1ª quinzena de fevereiro
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