Surdos criticam mudanças na grelha do canal. RTP contrapõe
que tem agora mais programas traduzidos em língua gestual.
Desde a semana passada que o telejornal Hoje, que passava às 22h e
era o único programa de informação em horário nobre nos canais em sinal aberto
com tradução em língua gestual portuguesa (LGP), deu lugar ao 24 Horas.
Este novo espaço informativo tem também intérprete de LGP, mas só vai para o ar
à meia-noite. Os surdos, que agora têm de ficar a pé até tarde para saber as
notícias do dia, queixam-se de desigualdade no acesso à informação.
(...)
A RTP diz que em 2012 produziu 3090 horas de legendagem de programas falados em
português, das quais 2380 horas foram de legendagem automática, feita por
computador. “Ninguém consegue seguir o raciocínio dessa escrita”, afirma
Josélia Neves. A legendagem preparada só pode ser usada nos programas
pré-gravados.
Num estudo que a especialista realizou em 2003 e que envolveu 153 pessoas
surdas em todo o país, 75% dos inquiridos dizia ter dificuldades na leitura,
mas todos viam quatro horas de televisão por dia durante a semana e 5h30 ao
fim-de-semana – mais do que a média nacional, que ronda as 3h30. Os noticiários
são os programas mais vistos pelos surdos, seguidos dos filmes, novelas e
programas de desporto.
"Nos outros países da Europa estão a colocar língua gestual nos
programas em horário nobre, nós estamos a andar para trás", lamenta
Josélia Neves. Actualmente, os únicos programas de informação com LGP são o Bom
Dia, Portugal, que passa na RTP1 das 9h00 às 10h00, e o Portugal em
Directo, das 18h00 às 19h00. Tudo o resto é entretenimento: Sociedade
Civil, na RTP2 das 14h às 15h30; Praça da Alegria, na RTP1 das
10h00 às 13h00; e Portugal no Coração, na RTP1 das 14h00 às 18h00.
(...)
Não há números concretos, mas estima-se que 15% da população mundial tem uma
deficiência e que 10% da população deficiente é surda. Os Censos 2011
não permitem apurar com certeza o número de pessoas com deficiência em
Portugal, mas indicam que 13% dos portugueses têm dificuldade em ouvir. Ou
seja, cerca de 1,4 milhões de pessoas.
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