domingo, 21 de outubro de 2012

O professor que dava aulas para o aluno real


 Durante demasiados anos tentei ser professor. Ainda é relativamente fácil esco­lher uma entre múltiplas marcas de iogurte, mas não escolhemos a língua onde nas­cemos, nem a pessoa que nos assalta a vida. Eu tinha um doutoramento em literatura inglesa e não se tinha aberto outra possibilidade de emprego senão ensinar parte do que sabia. Foi uma profissão da qual nunca gostei, sobretudo porque ensinar literatura me retirava a capacidade de escrever literatura, ou pelo menos assim o julgava. Mas tinha as suas vantagens, em particular tempo livre para procurar viver a minha vida.
Cedo descobri um estratagema que me aliviava o esforço e a ansiedade de falar para um conjunto de seres que me olhavam sem eu poder adivinhar o que lhes ia pela cabeça. No começo do semestre elegia uma aluna, ou por ela era eleito, para a qual passava a fa­lar em exclusivo.

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