Durante demasiados anos tentei
ser professor. Ainda é relativamente fácil escolher uma entre múltiplas marcas
de iogurte, mas não escolhemos a língua onde nascemos, nem a pessoa que nos
assalta a vida. Eu tinha um doutoramento em literatura inglesa e não se tinha
aberto outra possibilidade de emprego senão ensinar parte do que sabia. Foi uma
profissão da qual nunca gostei, sobretudo porque ensinar literatura me retirava
a capacidade de escrever literatura, ou pelo menos assim o julgava. Mas tinha
as suas vantagens, em particular tempo livre para procurar viver a minha vida.
Cedo
descobri um estratagema que me aliviava o esforço e a ansiedade de falar para
um conjunto de seres que me olhavam sem eu poder adivinhar o que lhes ia pela
cabeça. No começo do semestre elegia uma aluna, ou por ela era eleito, para a
qual passava a falar em exclusivo.
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