domingo, 15 de setembro de 2013

“No convívio com ele aprendi duas palavras fundadoras do acto pedagógico: autenticidade e respeito”. (Sérgio Niza, referindo-se a João dos Santos)

A CULTURA DA CRIANÇA
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É verdade que João dos Santos viveu numa época em que os conhecimentos neurobiológicos eram incipientes e as formulações teóricas sobre a doença mental muito especulativas. Tudo era explicado pelas perturbações da relação da infância ou pelas vicissitudes do desenvolvimento em famílias perturbadas: hoje sabe-se que há crianças com doenças “mesmo” biológicas, outras com temperamento difícil desde uma fase muito precoce da vida, outras ainda com disfunções de causa genética que as tornam particularmente vulneráveis. Assim, deveríamos ser agora capazes de ter uma visão mais aprofundada dos mecanismos geradores do mal-estar infantil e, se não tivermos uma visão dogmática, poderíamos dar uma resposta terapêutica integrada de melhor qualidade. No entanto, é também agora evidente o excesso de medicação em muitas situações, o provável exagero no diagnóstico de hiperactividade com défice de atenção e o recurso excessivo a institucionalização de crianças e jovens, em muitos casos sem o necessário trabalho prévio com as famílias de origem (existem cerca de 11.000 menores de 18 anos em regime de institucionalização), para não falar da escassez de técnicos com boa formação em saúde mental infanto-juvenil.

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Ao fundar com Manuela Ramalho Eanes o Instituto de Apoio à Criança (a que, aliás, queria apenas chamar Instituto da Criança), João dos Santos chamava a atenção para a necessidade de uma verdadeira cultura da criança. Tal significa que a criança não tem sempre razão (como vejo ser defendido por alguns pais permissivos), mas quer dizer que o respeito pelos mais novos deve constituir um pilar essencial da organização de uma sociedade. As crianças e os idosos, os mais vulneráveis, devem merecer todo o apoio, em todas as circunstâncias.

(Público de hoje)

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