segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mesmo se me convenceres, não me convencerás.(Aristófanes)


Caros senhores professores que adoram mandar trabalhos para casa:

Após ter passado um serão inteiro a construir um Pai Natal com cartolina e algodão, seguido de uma madrugada a recortar e imprimir fotografias da família para um manual de Português, enquanto a excelentíssima esposa preparava com sofisticação universitária uma aula especial sobre água para a semana da Ciência, venho por este meio propor a grelha análise que se segue, com três curtos pontos, que deverão ser cuidadosamente ponderados antes de enviarem trabalhos para casa, ou simples pedidos académicos, às criancinhas:

1. Assegurem-se que essa criancinha não pertence a uma família numerosa.É bué giro fazer trabalhos de casa com um filho único, mas não tem graça nenhuma ter de responder às solicitações de quatro putos diferentes, três dos quais têm uma montanha de actividades extra-curriculares. Às tantas não há mãos, estão a ver? Um gajo não consegue estar trinta minutos com a mulher. Não consegue ver uma série. Não consegue testar as molas do colchão. E porquê? Porque está a fazer recortes. 

2. As citadas actividades extra-curriculares são outro detalhe importante, a que convém prestar muita atenção. Há pais chanfrados (olhem para mim a levantar o braço) que entendem que a aprendizagem não se esgota na escola, e que acreditam que os filhos devem experimentar outras coisas além do Português e da Matemática. Lembrem-se, se faz favor, que essas outras coisas existem, são fixes, e que a minha filha mais velha, por exemplo, por ser doida e achar graça a demasiadas cenas, tem quase tantas disciplinas extra-curriculares como disciplinas curriculares. Por isso, ela não chega a casa para ficar a ver três horas de televisão como um nababo. A miúda mal tem tempo para se coçar.

3. Nunca - mas nunca - enviem trabalhos de casa que eles não consigam fazer sozinhos! Perdoem-me o sublinhado, mas este é o ponto mais importante. Eles não são auto-suficientes para fazer aquilo? Não mandem! Claro está que não me refiro às dúvidas que surgem ao tentar resolver um exercício de Matemática ou de Português. Isso é naturalíssimo e estou cá para ajudar. Refiro-me àqueles trabalhos manuais de encher o olho, àqueles projectos especiais hiperbólicos que estimulam imenso a competitividade dos pais, porque não será o meu filho a ter um globo terrestre em alto relevo mais pobrezinho do que o do Asdrúbal.

Não, não não! Nãããããooooo!!!! Eu já não tenho trabalhos manuais desde o sexto ano! E não quero ter! Terminaram em 1984! Não quero trabalhos manuais! Não quero recortes! Não quero colagens! Quero que um juiz impeça qualquer cartolina de se aproximar a menos de 10 metros da minha pessoa!

Desculpem-me os pontos de exclamação e os sublinhados, que eu costumo prudentemente manter afastados da escrita. Mas isto tem sido demais. Eu só quero descansar a partir das dez da noite, antes de cair para o lado às onze. Dá para ter uma hora para mim? Dá para ter um momento em paz com a excelentíssima esposa? OK, é verdade que ela prefere a produção de cristais com bicarbonato de sódio à minha companhia. Mas eu prefiro definitivamente a sua companhia à construção de pais natal.

Senhores professores, tenham muita, muita atenção a estes três pontos, está bem? Eu estou meeeesmo a precisar da vossa ajuda.

Agradeço por antecipação,

João Miguel Tavares 

domingo, 29 de novembro de 2015

Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras.(Paul Léautaud)


A direita é pelos exames por serem à antiga portuguesa. A esquerda é contra os exames por serem à antiga portuguesa. Sei que haverá quem se decepcione com o que lerá a seguir, este é dos tais temas que põem quase toda a gente a berrar de cabelos em pé, mas eu sou pelos exames porque sou de esquerda. Passo a explicar-me: sem a boa nota que pode obter no tal exame que a esquerda diaboliza, o aluno pobre fica em pé de desigualdade com o aluno rico que obtém uma nota menor. E escrevi pé de desigualdade e não pé de igualdade porque, quando ambos saem do sistema de ensino e entram no mercado de trabalho, o desempate entre este bom aluno pobre e este mau aluno rico é feito pelo papá do segundo, que em regra, usando a gíria do maravilhoso mundo da cunha, tem mais “conhecimentos”do que o do primeiro, que se relaciona maioritariamente com gente tão simples e sem poder como ele próprio, já para não mencionar todas as experiências enriquecedoras que apenas os alunos de classes mais abastadas têm a possibilidade de vivenciar e que, pelas competências que desenvolvem, também entram neste desempate.

E antes que alguém diga que os conhecimentos de um aluno não se conseguem medir cabalmente em duas horas de exame, ideia com a qual estou completamente de acordo, antecipo-me deixando algumas questões para as quais confesso não ter respostas. E então como é que se distingue o bom do mau aluno? Como é que se convence um puto que a escola não é apenas um sítio divertido para ir passar o dia se, quer trabalhem, quer não o façam, o “sucesso” é garantido à partida para todos? Como é que se diferencia o bom do mau professor e uma escola de uma vendedora de boas notas sem uma avaliação externa que sirva de termo de comparação? Já agora, o primeiro teste de conhecimentos que façam, na faculdade ou no primeiro concurso para um posto de trabalho, e serão obrigados a fazê-lo mais cedo ou mais tarde, também é “fascista”? Responda quem tiver a certeza absoluta. E sim, exames no 4º ano talvez fossem um exagero, aos 9 anos talvez seja demasiado cedo para sujeitar uma criança a tanta pressão. Mas apenas talvez. E as questões que enumerei atrás não desaparecem neste talvez.

Pequena Elegia Chamada Domingo

Pequena Elegia Chamada Domingo


Foto também tirada daqui
O domingo era uma coisa pequena. 
Uma coisa tão pequena 
que cabia inteirinha nos teus olhos. 
Nas tuas mãos 
estavam os montes e os rios 
e as nuvens. 
Mas as rosas, 
as rosas estavam na tua boca. 

Hoje os montes e os rios 
e as nuvens 
não vêm nas tuas mãos. 
(Se ao menos elas viessem 
sem montes e sem nuvens 
e sem rios...) 
O domingo está apenas nos meus olhos 
e é grande. 
Os montes estão distantes e ocultam 
os rios e as nuvens 
e as rosas. 

Eugénio de Andrade, in 'Poesia e Prosa[1940-1980]' 

sábado, 28 de novembro de 2015

Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras.(Paul Léautaud)


A decisão da Assembleia da República de acabar com os exames nacionais do 4.º ano desencadeou sem surpresa uma onda de comentários. Estes comentários, de origem variada e argumentação variável distribuem-se com gradientes variados entre o favorável ao absolutamente contra. Sem querer alimentar o ruído, 10 notas telegráficas e sem hierarquia de importância.

1 – Os exames, só por existirem, não promovem a qualidade do trabalho de alunos e professores. O que promove a qualidade do trabalho é a existência de apoios oportunos e ajustados às dificuldades, currículos e conteúdos adequados, efectivo de turma razoável, autonomia das escolas, qualificação e valorização dos professores, etc.

2 – Os exames não são “traumatizantes” para os alunos. De uma forma geral os alunos convivem com tranquilidade com situações de avaliação. O que pode criar ansiedade a alguns alunos é o discurso de adultos, pais ou professores, sobre os exames, o clima criado em algumas sala de aula sobre a sua realização e a mediatização extraordinária de tal “normalidade”.

3 – Pouquíssimos países têm um exame nacional ao fim de quatro anos de escolaridade. Estarão todos errados mesmo se tal se verifica na maioria dos sistemas educativos melhor posicionados nos estudos comparativos internacionais?

4 – Apesar de eu próprio questionar a sua necessidade, extinguir, sem mais, o exame do 4º ano, tal como instituir um novo exame, requer prudência, avaliação de impacto e contenção de riscos. Não pode ser uma medida avulsa, mais uma, em que a política educativa é fértil em Portugal. A mesma prudência deve considerar-se quando se fala de acabar com mais exames, 6º e 9º, designadamente.

5 – No caso particular do 4º ano a óbvia necessidade de regulação e avaliação do sistema pode, como já foi, ser conseguida com a realização de provas de aferição.

6 – Questionar a bondade do exame como promotor de resultados só por se realizar, que, aliás, os dados recentes não confirmam, não é defender o “facilitismo”. “Facilitismo com consequências sérias é acreditar que instituir exames, muitos exames, é o suficiente para que os alunos aprendam mais e melhor. Não é verdade, medir muitas vezes a febre não a faz baixar.

7 – Temos uma taxa brutal de retenção, 150 000 alunos por ano, a existência de exames não faz, só por si, alterar este cenário devastador e com impactos fortíssimos. Como já afirmei muitas outras dimensões estão envolvidas.

8 – O sucesso de escolar e educativo não tem correlação com o número de exames. Só a título de exemplo e não querendo comparar algo que não pode ser comparável de forma ligeira, a Finlândia apenas tem exames nacionais no final do ensino secundário, não consta que apresente altos níveis de insucesso ou retenção e também não será um sistema “facilitista”.

9 – Vários relatórios de instituições como a OCDE alertam para os riscos de uma sobrevalorização da avaliação externa na qualidade da educação. Um dos riscos é a alimentação de políticas reactivas e menos preventivas, ou seja, desencadear medidas, se tal acontecer o que nem sempre se verifica, face a resultados mais baixos e desvalorizar medidas de prevenção que minimizem o risco do insucesso e, portanto, a remediação.

10 – Dito isto, estou convencido que qualquer de nós continua convencido da sua verdade sobre os exames.

 

Um abraço

Juntar as pontas dos ombros e dar algumas palmadinhas nas costas não é um abraço. Escrever "abraço" no fim de um e-mail também não é um abraço. Indiferente ao desenvolvimento social e tecnológico, um abraço continua a ser duas pessoas que se juntam e se apertam uma de encontro à outra.

Esses rapazes que aparecem com cartazes a oferecerem abraços nos festivais de verão têm graça e talvez sejam bem-intencionados, mas fazem publicidade enganosa. Não são os abraços que provocam as ligações, são as ligações que provocam os abraços. Um abraço não é apenas duas pessoas que se juntam e se apertam uma de encontro à outra.

Um abraço tem muita importância.

Quando eu era uma criança, teria talvez uns nove ou dez anos, o meu pai deu-me um abraço na cozinha da nossa casa. Era de madrugada porque essa era a hora em que, naquele tempo, se saía da minha terra quando se ia para Lisboa. O meu pai tinha uma operação marcada no hospital, estava vestido com as roupas novas e tinha medo. Enquanto me abraçava, o meu pai chorou porque, durante um momento, acreditou que podia nunca mais me ver. Os braços do meu pai passavam-me pelos ombros, a minha cabeça assentava-lhe na barriga, sobre o pullover. A lâmpada que tínhamos acesa por cima da cabeça espalhava uma luz que amarelecia tudo o que tocava: a mesa onde jantávamos todos os dias, o ar que ali respirámos em tantas horas anteriores àquela, em tantas horas ignorantes daquela. O meu pai usava um aftershave muito enjoativo, barato, que alguém lhe tinha oferecido no Natal. Agora mesmo, consigo ainda sentir esse cheiro com nitidez absoluta.

A operação correu bem. Depois do susto, depois da convalescença, o meu pai voltou para casa com uma cicatriz grossa e roxa na barriga, ficava à vista quando a camisa lhe saía para fora das calças ou na praia, apesar de usar os calções exageradamente puxados para cima. Depois disso, tivemos direito a nove anos em que não voltámos a pensar em despedidas.

Durante muito tempo procurei em toda a minha memória: as lembranças de quando regressou da operação ou, depois, quando tínhamos a mesma altura ou, mesmo depois, quando ficou doente pela última vez. Mas abandonei as buscas, não consigo recordar outra ocasião em que nos tenhamos voltado a abraçar. Essa madrugada na cozinha, a luz amarela, o aftershave, foi a única vez em que nos abraçámos na vida.

Não afirmo com leveza que um abraço tem muita importância. Há quinze anos que escrevo livros apenas sobre esse abraço.



José Luís Peixoto, in Notícias Magazine, 22 de novembro de 2015

O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.(José Saramago)

Gráficos que não são factuais, mas têm muito de verdade



O site Truthfacts.com publica uma série de factos da vida de forma muito pouco cientifica, mas com uma excelente apresentação em infográficos… e vocês sabem como não conseguimos resistir a um bom gráfico. Não deixem de ver a compilação que o blog PulpTastic.com fez destes infográficos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

“Não basta só uma atitude assistencial, é necessário que se escute, na primeira pessoa..."

Bragança, 26 nov 2015 (Ecclesia) – A diocese de Bragança-Miranda considera essencial que as comunidades se empenhem mais na integração social e eclesial das pessoas com deficiência.
Numa nota pastoral divulgada no âmbito do Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa, enviada hoje para a Agência Ecclesia, D. José Cordeiro sublinha que “as pessoas com deficiência continuam a fazer parte dos muitos excluídos da sociedade e de muitos lugares eclesiais”.
Apesar de já se encontrarem “sinais positivos” de mudança, por exemplo quanto ao cuidado com a “acessibilidade” das pessoas com deficiência aos edifícios, monumentos, escolas, transportes públicos ou ao traçado da via pública, o prelado frisa que “ainda há muito a fazer”.
Sobretudo no cuidado com as pessoas que “vivem na família e nas aldeias, vilas e cidades do Nordeste Transmontano”, refere.
D. José Cordeiro exorta as comunidades católicas da região, nas paróquias, unidades pastorais, movimentos e todas as famílias, a cuidarem “destes irmãos com ternura e inteligência pastoral, nos gestos e nas novas linguagens, na catequese, na liturgia e na caridade”.
“Não basta só uma atitude assistencial, é necessário que se escute, na primeira pessoa, o testemunho de quem, vivendo com uma deficiência, possa experimentar na sua vida concreta, a par dos sofrimentos, a alegria que nasce da misericórdia de Deus”, sustenta o bispo.
O responsável católico lembra que todas as pessoas, “por diferentes razões e em qualquer momento da vida”, podem ficar portadoras de uma deficiência.
“Essas limitações nem sempre podem ser ultrapassadas” mas “a vida é o precioso dom da Graça de Deus, por isso, cada pessoa é chamada a vivê-la como uma bênção e nunca como um castigo ou desgraça”, aponta o prelado, recordando o apoio que é preciso dar também a quem cuida dos mais frágeis ou carenciados da sociedade.
Neste âmbito, o bispo de Bragança-Miranda saúda o esforço e dedicação de todas as instituições que, dia-a-dia, cuidam das pessoas portadoras de deficiência.
Agradece ainda “o trabalho de tantos médicos, profissionais e técnicos de saúde, terapeutas e muitos colaboradores e voluntários que trabalham ao serviço do bem comum e da dignidade da pessoa humana nestas casas especializadas”.
Desde março de 2014 que a Diocese de Bragança-Miranda conta com um Serviço Pastoral orientado para as Pessoas com deficiência.
D. José Cordeiro espera contar com o envolvimento de todos no desenvolvimento desse “esperançoso serviço”, salientado que “a pastoral da saída missionária exige que a Igreja, na sua solicitude, seja sempre casa de inclusão e, como mãe, abrace a todos”.
JCP



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sobre poucas coisas, todos dizemos estar de acordo. Porque para todas, bastam os cemitérios.(Vergílio Ferreira)


São normalmente duas as frases que oiço quando digo a minha profissão.
“- Professora de Educação Especial? O que fazes exatamente?”
“- Ah, isso é um grande desafio! Tens de trabalhar com casos complicados, autistas e isso..”
Existe efetivamente, não só quem não é do núcleo da Educação, quem ainda não compreende exatamente o que faz um professor de Educação Especial. Esta é uma atitude resultante da multiplicidade de papéis que os professores nesta área têm assumido dependendo das instituições/escolas onde estão inseridos; da sua base de formação e em última instância do perfil de cada um. Há no entanto, como em todas as profissões uma definição de funções comuns.
 O “boom” da especialização em Educação Especial teve início após o enquadramento legal que apela à inclusão não permitindo que escolas regulares vedem o acesso a crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
A especialização de um professor na área de Educação Especial está ao alcance de todos os professores. Atualmente existem várias ofertas e como em todas as áreas, algumas mais adequadas do que outras. Tão importante como a especialização nesta área estão, sem dúvida, as experiências e os locais por onde passou o professor de Educação Especial. Estes fatores, “em colaboração” com os conhecimentos académicos é que permitem fazer a diferença.
Um professor de Educação Especial deve conhecer todo o enquadramento legal relativamente às necessidades educativas especiais, conhecendo na íntegra o Decreto. Lei 3/2008, o documento orientador que regula a intervenção nas Necessidades Educativas Especiais. É o Departamento de Educação Especial que recebe as referenciações (onde deve estar integrado um relatório médico) dos alunos que revelam dificuldades nas atividades e participação em sala de aula, avaliando, conjuntamente com o SPO (Serviço de Psicologia e Orientação) o perfil de funcionalidade do aluno através de uma avaliação pedagógica (professor EE) complementada com uma avaliação psicológica, (Psicólogo). Após esta avaliação o professor EE propõe as medidas educativas que em conjunto com as informações do conselho de turma são definidas através de um Programa Educativo Individual. Identificadas as áreas comprometidas e as áreas fortes (emergentes) o professor de Educação Especial funciona como um intermediário que tem de conhecer os comprometimentos avaliados pelos profissionais de saúde e as suas implicações nas aprendizagens. É o professor EE que pode ajudar os professores do conselho de turma com ferramentas e estratégias que permitem ajudar o aluno no seu percurso. É o aliado para discutir, planear e orientar a intervenção mais adequada. Tem também um papel fundamental para explicitar à comunidade escolar não só o enquadramento legal, mas a filosofia subjacente nas necessidades educativas especiais para que todos os intervenientes usem uma linguagem universal e uma postura congruente, nunca nos esquecendo do nosso papel, mas interligando conhecimentos. Encontrar as ferramentas mais indicadas e com rigor para ajudar o aluno a atingir as metas trabalhando em conjunto com os professores e individualmente com o aluno é o seu objetivo.
“Rigor” é uma palavra fundamental. Fundamental para definir, também, o que não é Educação Especial. Não é um espaço para explicações, não é uma sala de apoio às disciplinas, não é um professor de apoio sócio educativo e não é o médico de famíliado Ministério da Educação que transpõe para um papel, em modo de medida educativa, as indicações do relatório médico do aluno.
É importante percebemos o papel de cada um neste processo. Os profissionais de saúde são fundamentais para indicarem o perfil de funcionalidade ao nível das estruturas do corpo e nas funções mentais, mas não podem receitar medidas educativas, assim como um professor de educação especial não receita medicamentos, porque não é a sua área.
Em suma, o Departamento de Educação Especial tem de possuir conhecimentos consistentes relativamente a todas as áreas de intervenção, Tem de conhecer as fragilidades, as perturbações do desenvolvimento e tem de dominar as ferramentas mais indicadas para trabalhar competências específicas que permitam ao aluno encontrar uma forma de estabelecer um ponto de partida que o coloque o mais possível em igualdade de circunstâncias.
Cada alínea de cada medida educativa tem de ser pensada, repensada, especificada e nunca, nunca generalizada ou massificada. Os alunos não são rótulos. São nomes, vidas e personalidades diferentes que para progredirem no seu percurso têm de ser respeitados. E por isso defendo que existe um perfil para se ser Professor de Educação Especial. Por experiência própria reconheço que é difícil manter uma linha de intervenção e objetivos claros quando em muitas escolas o Professor de Educação Especial acaba por ser o único recurso de apoio boicotando assim o seu verdadeiro trabalho.
Em última análise (que deve ser geral a todos os professores), em Educação Especial é necessário um trabalho de um grande envolvimento, de pesquisa constante e especial em estabelecer uma relação com os alunos que lhes transmita confiança verdadeira, pois facilmente a nossa postura pode soar a falso se não é sentida. E só a partir deste ponto é possível desenvolver um trabalho.


"um país que não respeita os seus deficientes não tem respeito por si próprio"


Foto tirada daqui
Vai estrear-se no cargo de secretária de Estado, numa área a que tem dado voz, defendendo que "um país que não respeita os seus deficientes não tem respeito por si próprio"

Ana Sofia Antunes, presidente da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), vai assumir a pasta da Inclusão das Pessoas com Deficiência, tornando-se a primeira governante deficiente invisual em Portugal.

Candidata pelo círculo de Lisboa nas legislativas de outubro, Ana Sofia Antunes, 34 anos, vai estrear-se no cargo de secretária de Estado, numa área a que tem dado voz, defendendo que "um país que não respeita os seus deficientes não tem respeito por si próprio".
Nasceu com deficiência visual e tem dedicado a sua vida à luta pelos direitos dos deficientes, nomeadamente na ACAPO, onde assumiu o cargo de presidente em janeiro do ano passado.
Jurista de profissão, Ana Sofia Antunes exerceu funções de assessoria jurídica na Câmara Municipal de Lisboa, colaborando diretamente com o Pelouro da Mobilidade, entre 2007 e 2013, período em que António Costa era o presidente da autarquia.

Neste período, adquiriu ainda experiência nas áreas da contratação pública, bem como em matérias conexas com a Mobilidade e a Acessibilidade em meio urbano, assegurando a interação com os munícipes sempre que as questões apresentadas versassem conteúdos jurídicos.

Em julho de 2010, assumiu a responsabilidade, pelos trabalhos do Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, coordenando a Comissão de Acompanhamento e o Painel Consultivo, deste plano.

Três anos depois, transitou para a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL), onde é provedora do cliente.

Numa entrevista ao DN, Ana Sofia Antunes disse que para um cego andar na Assembleia da República não é complicado, mas alertou que, para um cidadão em cadeira de rodas, isso se torna "um problema", porque o edifício é pouco acessível.


Disse ainda que o acesso à informação escrita é o seu maior problema.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O ser refutável não é o menor dos encantos de uma teoria.(Friedrich Nietzsche)

Médicos recomendam há décadas dietas livres de glúten e caseína, para evitar problemas digestivos. Mas um novo estudo vem agora dizer que é absolutamente desnecessário.



A dieta livre de glúten e de caseína pode, afinal, não fazer grande diferença no tratamento de crianças com autismo. Um novo estudo vem deitar por terra as teorias médicas que recomendam estas dietas, para reduzir problemas digestivos. 
  
O estudo foi levado a cabo por investigadores da Universidade de Rochester e publicado no The Journal of Autism and Developmental Disorders. 
  
Muitos especialistas defendem que as crianças com autismo têm dificuldades em digerir o glúten e a caseína, provocando desconforto físico e agravando os sintomas comportamentais. O novo estudo vem agora colocar essa teoria em causa e duvidar que as dietas livres de glúten e caseína influenciam de facto os sintomas de crianças com autismo. 
  
Os investigadores acompanharam, durante 12 semanas, um grupo de crianças autistas com idades entre os dois e os cinco anos e que seguiam uma dieta livre de glúten e caseína. Numa fase posterior, foram introduzidos na dieta das crianças alimentos com essas com uma das duas proteínas, com ambas ou um placebo que não continha nenhuma das duas. Tristram Smith, um dos investigadores, explica que a dieta foi estritamente monitorizada por nutricionistas. 
  
A equipa chegou à conclusão que “não foram verificadas alterações significativas nas crianças, depois de reintroduzidos os alimentos com glúten, com caseína ou com ambas as proteínas na dieta das crianças, por comparação com o placebo”. 
  
Este estudo vem contrariar um outro, da Universidade de Oslo, na Noruega, que, em 2002, assegurava que implementar dietas livres de glúten e de caseína tinham impacto positivo na redução de sintomas comportamentais  das crianças com autismo. 
Lido aqui

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Isto quer dizer que...

Clique para mais informação

Gente transparente com lágrimas


São recebidas cerca de 10 chamadas por dia. Em 2014, para além de casos de violência, negligência, 64% dos pedidos de apoio vieram de "meninos, meninas e jovens que queriam falar com alguém". "As crianças e os jovens, por vezes, vivem numa solidão acompanhada. Estão pessoas perto deles, mas não têm confiança, não têm à vontade para falar com essas pessoas e ligam para o serviço SOS-Criança", refere Manuel Coutinho, responsável pela Linha SOS – Criança.
Na verdade, por estranho que pareça, existem muitíssimas crianças e jovens que estando à beira de adultos passam completamente despercebidas, são as que eu chamo de crianças ou jovens transparentes. Olhamos para elas, através delas, como se não existissem, estão à vista mas muitas delas sentem-se sós, abandonadas.
Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal solidão ou abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou adrenalina de quem nada tem para perder.
Em muitas destas situações, ninguém dá por falta destas crianças ou adolescentes e também ninguém as procura.
Por vezes, perdem-se de vez.
Importa por isso que a comunidade esteja atenta, mais atenta, e possa identificar situações desta natureza.

 Texto de 

sábado, 21 de novembro de 2015

O que mais importa não é o novo que se vê mas o que se vê de novo no que já tínhamos visto. (Vergílio Ferreira)

O projeto TEA: Tablets no Ensino e na Aprendizagem (uma iniciativa sob os auspícios da Fundação Calouste Gulbenkian), em parceria com a Fundação Portuguesa das Comunicações, convidam-no/a a participar num painel intitulado “A Educação à luz do digital: o olhar da investigação”.
O objetivo último do conjunto de sessões, escalonadas ao longo do presente ano letivo, que tem o título genérico "A Educação à luz do digital", é estimular a discussão em torno de algo que, a termo mais ou menos curto, acontecerá nas escolas, isto é, a adoção, mais ou menos tutelada, mais ou menos alargada, de tecnologias digitais e, mais particularmente, de tecnologias móveis. É, do mesmo passo, seu propósito contribuir para ajudar a refletir sobre os desafios que a introdução das tecnologias digitais/móveis na educação, e a sua utilização por parte de professores e alunos, coloca a quem, de uma forma ou de outra, tem por incumbência decidir, a diferentes níveis de abrangência, sobre a res educativa em Portugal.
Este primeiro painel tem como convidados cinco professores universitários, investigadores e especialistas na área da utilização educativa das tecnologias digitais/móveis:
- Ana Amélia Carvalho, Universidade de Coimbra

- João Correia de Freitas, Universidade Nova de Lisboa

- João Filipe Matos, Universidade de Lisboa
- Lúcia Amante, Universidade Aberta
- Maria João Gomes, Universidade do Minho

A moderação fica a cargo de José Moura Carvalho, Coordenador do projeto TEA: Tablets no Ensino e na Aprendizagem.
A entrada é livre mas sujeita a inscrição prévia, até ao dia 20 de novembro de 2015, emeducacaoluzdigital.weebly.com.
Para saber mais sobre a Fundação Portuguesa das Comunicações (FPC), aceda a http://www.fpc.pt/pt-pt/home.aspx.
A agenda da FPC encontra-se em http://bit.ly/1Q5RMkq.

Informações sobre o projeto TEA em teagulbenkian.weebly.com.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Barato e bom

MELHORAR A ESCOLA

c
MELHORAR A ESCOLA - SUCESSO ESCOLAR, DISCIPLINA, MOTIVAÇÃO, DIREÇÃO DAS ESCOLAS E POLÍTICAS EDUCATIVAS
Organização Joaquim Machado; José Matias Alves
Universidade Católica do Porto
2014

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

... a posição do PS sobre este tema é “relativamente convergente” com a do BE...

Exames no final do 4.º ano já não deverão realizar-se em 2016

Os alunos que actualmente estão no 4.º ano de escolaridade já não deverão realizar exames finais de Português e Matemática em 2016. O final das provas, já a partir deste ano lectivo, vai ser proposto no parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE), no próximo dia 27, através de um projecto de lei que altera os diplomas aprovados por Nuno Crato, que instituíram os exames no final do 1.º e do 2.º ciclo, e que contará com o apoio da actual maioria parlamentar.
Para já, o projecto do BE, a que o PÚBLICO teve acesso, limita-se a suprimir as provas do 4.º ano, embora no preâmbulo se reafirme o compromisso assumido no programa eleitoral de também pôr fim aos exames do 6.º ano. “Esse compromisso mantém-se para além da urgência do presente projecto e a ele voltaremos com futuras iniciativas”, frisa-se.
Em declarações ao PÚBLICO, a deputada do BE Joana Mortágua justifica esta opção não só pela necessidade de se garantir um “consenso amplo” em torno da medida, mas também porque alargar para já o âmbito das mudanças “poderia significar que este processo se prolongasse por mais tempo”, o que não é compatível com a sua “urgência”. “Para entrar em vigor já este ano lectivo não pode conter grandes alterações. Queremos que seja um processo limpo, claro e cirúrgico” e que também que dê “um sinal simbólico, o de que um parlamento diferente se traduz numa vida diferente para as pessoas, e também na educação”, frisou.
No seu programa eleitoral o PS prometeu “reavaliar a realização de exames nos primeiros anos de escolaridade”, provas que sempre contaram também com a oposição do PCP e dos Verdes. Quando no início de Novembro se agendou o debate deste projecto para o próximo dia 27, o deputado socialista Pedro Delgado Alves confirmou que a posição do PS sobre este tema é “relativamente convergente” com a do BE e que só decidirá se apresenta ou não o seu próprio projecto depois de conhecer o do Bloco, que deu entrada no parlamento esta quinta-feira.
Pais e professores aplaudem
A mudança é aplaudida por pais e professores. ”Sempre fui contra os exames no final do 1.º ciclo porque são negativos para as aprendizagens das crianças e para o funcionamento normal do ano lectivo, nomeadamente devido à altura em que se realizam [em Maio, quando ainda não acabaram as aulas”, diz Filomena Viegas, responsável na Associação de Professores de Português (APP) por este nível de escolaridade.
Os exames finais no 4,º ano estrearam-se em 2013 e Filomena Viegas não tem dúvidas, pela experiência dos últimos três anos, que “avassalam o quotidiano dos professores a partir do princípio do 2.º período, quando as aulas passam a ser transformadas em sessões de treino para os exames”. “Os alunos não fazem mais nada, a partir dessa altura, do que repetir os testes dos anos anteriores. Temos provas disso”, acrescenta.
Filomena Viegas aponta também outro efeito perverso dos exames, já apontado pelo Conselho Nacional de Educação: apesar da percentagem de chumbos ter diminuído no 4.º ano a partir da introdução dos exames, aumentou no 3.º ano ou seja, salienta, “as crianças estão a ficar retidas no ano anterior ao do exame com o argumento de que não estão preparadas” para realizarem esta prova.
A responsável da APP defende ainda que valorizar apenas a avaliação a Português e a Matemática em idades tão precoces desvirtua o que deve ser a formação neste nível. “Devemos estar a educar as crianças para serem bons cidadãos e não só para saberem alguma coisa de Português e Matemática. E o que tem acontecido é que tudo o resto, a área de Expressões, o Estudo do Meio, as visitas de estudo, são postas em causa com os exames”, alerta.

Lurdes Figueiral, presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), aponta no mesmo sentido. “Os exames vieram introduzir um desequilíbrio curricular ao privilegiarem, logo a partir de tão cedo, o Português e a Matemática”, adianta, lembrando que a APM sempre se opôs a estas provas por considerar “não só que não se justificam, como são contraproducentes“. As aulas passaram a estar muito mais focadas na avaliação do que nas aprendizagens”, frisa também a presidente da APM, acrescentando ainda que estas provas “não são um instrumento adequado para providenciar informação sobre as dificuldades dos alunos, nem as formas de as remediar”. “Só existem vantagens para que a mudança seja feita já este ano lectivo”, frisa.
Publico

Isto só à bengalada!


Lily-Grace Hooper sofreu um derrame cerebral quando tinha apenas quatro dias de vida, tendo ficado totalmente cega do olho direito. No início deste ano, um centro de caridade para crianças cegas ofereceu uma bengala a Lily-Grace. Então, em abril, começou a usá-la na escola, de forma a tornar-se mais independente.

Kristy Hooper, a mãe, contou ao jornal local "Bristol Post" que a bengala se tornou "uma extensão do braço" de Lily-Grace. "Quero fazer com que ela seja capaz de se tornar independente", partilhou.

Perante a recente imposição da escola, que considerou que a bengala pode afetar a "saúde e segurança" dos demais, a direção do estabelecimento propôs, em alternativa, que um adulto acompanhasse a menina em permanência.

Contudo, Kristy considerou a situação "ridícula: se tirassem uma bengala a um adulto, seria discriminação. O mesmo acontece aqui". Além disso, a mãe teme que o facto de um adulto estar sempre com a menina acabe por afastá-la das outras crianças.

Lily-Grace "não teve quaisquer problemas com outros alunos", lembrou a mãe, sublinhando que os outros pais também se mostraram "muito compreensivos" com o caso.

"Lily-Grace adaptou-se à bengala muito rapidamente e precisa dela para ir para a escola, para andar no recreio ou apenas para ser capaz de circular no local. E a saúde e segurança da minha filha? Esta é uma escola boa, mas este é um conselho muito mau", desabafou a mãe.

Por outro lado, Kristy confessou que não queria tirar a filha da escola que atualmente frequenta, já que ela gosta de lá estar, esperando que o "senso comum prevaleça".

A Health and Safety Executive, organização independente para temas relacionados com a segurança, saúde e doença no trabalho, criticou a escolha de palavras tomada pela Hambrook Primary School, referindo que não há nada no regulamento que proíba uma criança de usar uma bengala na escola.

Já Jo Dent, diretor do estabelecimento escolar, afirmou que "o departamento de mobilidade da escola levantou as questões de saúde e segurança em volta da nova bengala devido a uma recente avaliação de riscos".

Dent esclareceu ainda que "a estudante não foi proibida de trazer a bengala, simplesmente pedimos que não a usasse na escola como uma medida temporária, até termos hipótese de nos reunirmos com os pais e discutir a situação".

Fonte: JN

De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida.(Bertolt Brecht)

Inclusão à Kiev

O mundo do futebol acompanhou estarrecido a infame notícia que o Dínamo de Kiev, reincidente em casos de racismo contra negros no seu estádio, encontrou finalmente a solução para tal questão.  Se pensou que o clube vai expulsar os envolvidos nos incidentes, ou proibir a entrada dos “ultras” –  as fanáticas, violentas e racistas torcidas organizadas – nos estádios, está enganado.
O diretor do estádio ucraniano, Volodomir Spilchenko, está propondo a criação de um setor separado para negros como forma de “evitar racismo”. Nada mais natural num país onde o futebol é pródigo em manifestações racistas agressivas dos seus adeptos.
Talvez devido à grande repercussão mundial, o clube já recuou dizendo haver sido mal interpretado, já que supostamente os jornalistas não teriam publicado a afirmação completa do diretor do clube.

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Dynamo Kyiv stadium official denies suggestion of segregating black fans was made

 Olympic Stadium statement says Volodimir Spilchenko was misquoted 
 Reports said Spilchenko proposed ‘black sector’ in Dynamo Kyiv’s stadium