domingo, 29 de novembro de 2015

Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras.(Paul Léautaud)


A direita é pelos exames por serem à antiga portuguesa. A esquerda é contra os exames por serem à antiga portuguesa. Sei que haverá quem se decepcione com o que lerá a seguir, este é dos tais temas que põem quase toda a gente a berrar de cabelos em pé, mas eu sou pelos exames porque sou de esquerda. Passo a explicar-me: sem a boa nota que pode obter no tal exame que a esquerda diaboliza, o aluno pobre fica em pé de desigualdade com o aluno rico que obtém uma nota menor. E escrevi pé de desigualdade e não pé de igualdade porque, quando ambos saem do sistema de ensino e entram no mercado de trabalho, o desempate entre este bom aluno pobre e este mau aluno rico é feito pelo papá do segundo, que em regra, usando a gíria do maravilhoso mundo da cunha, tem mais “conhecimentos”do que o do primeiro, que se relaciona maioritariamente com gente tão simples e sem poder como ele próprio, já para não mencionar todas as experiências enriquecedoras que apenas os alunos de classes mais abastadas têm a possibilidade de vivenciar e que, pelas competências que desenvolvem, também entram neste desempate.

E antes que alguém diga que os conhecimentos de um aluno não se conseguem medir cabalmente em duas horas de exame, ideia com a qual estou completamente de acordo, antecipo-me deixando algumas questões para as quais confesso não ter respostas. E então como é que se distingue o bom do mau aluno? Como é que se convence um puto que a escola não é apenas um sítio divertido para ir passar o dia se, quer trabalhem, quer não o façam, o “sucesso” é garantido à partida para todos? Como é que se diferencia o bom do mau professor e uma escola de uma vendedora de boas notas sem uma avaliação externa que sirva de termo de comparação? Já agora, o primeiro teste de conhecimentos que façam, na faculdade ou no primeiro concurso para um posto de trabalho, e serão obrigados a fazê-lo mais cedo ou mais tarde, também é “fascista”? Responda quem tiver a certeza absoluta. E sim, exames no 4º ano talvez fossem um exagero, aos 9 anos talvez seja demasiado cedo para sujeitar uma criança a tanta pressão. Mas apenas talvez. E as questões que enumerei atrás não desaparecem neste talvez.

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