A direita é
pelos exames por serem à antiga portuguesa. A esquerda é contra os exames por
serem à antiga portuguesa. Sei que haverá quem se decepcione com o que lerá a
seguir, este é dos tais temas que põem quase toda a gente a berrar de cabelos
em pé, mas eu sou pelos exames porque sou de esquerda. Passo a explicar-me: sem
a boa nota que pode obter no tal exame que a esquerda diaboliza, o aluno pobre
fica em pé de desigualdade com o aluno rico que obtém uma nota menor. E escrevi
pé de desigualdade e não pé de igualdade porque, quando ambos saem do sistema
de ensino e entram no mercado de trabalho, o desempate entre este bom aluno
pobre e este mau aluno rico é feito pelo papá do segundo, que em regra, usando
a gíria do maravilhoso mundo da cunha, tem mais “conhecimentos”do que o do
primeiro, que se relaciona maioritariamente com gente tão simples e sem poder
como ele próprio, já para não mencionar todas as experiências enriquecedoras
que apenas os alunos de classes mais abastadas têm a possibilidade de vivenciar
e que, pelas competências que desenvolvem, também entram neste desempate.
E antes que alguém diga que os conhecimentos de
um aluno não se conseguem medir cabalmente em duas horas de exame, ideia com a
qual estou completamente de acordo, antecipo-me deixando algumas questões para
as quais confesso não ter respostas. E então como é que se distingue o bom do
mau aluno? Como é que se convence um puto que a escola não é apenas um sítio
divertido para ir passar o dia se, quer trabalhem, quer não o façam, o
“sucesso” é garantido à partida para todos? Como é que se diferencia o bom do
mau professor e uma escola de uma vendedora de boas notas sem uma avaliação
externa que sirva de termo de comparação? Já agora, o primeiro teste de
conhecimentos que façam, na faculdade ou no primeiro concurso para um posto de
trabalho, e serão obrigados a fazê-lo mais cedo ou mais tarde, também é
“fascista”? Responda quem tiver a certeza absoluta. E sim, exames no 4º ano talvez
fossem um exagero, aos 9 anos talvez seja demasiado cedo para sujeitar uma
criança a tanta pressão. Mas apenas talvez. E as questões que enumerei atrás
não desaparecem neste talvez.
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