O psiquiatra
Afonso Albuquerque lamentou esta quinta-feira que muitos ex-combatentes em
África, com stress de guerra, acabem por morrer antes de serem qualificados
como deficientes das Forças Armadas, apesar de alguns estarem mais de dez anos
à espera desta classificação, avança a agência Lusa.
Este
especialista sublinhou o avanço que a legislação trouxe a Portugal, pois na
altura a doença (stress de guerra) não era sequer reconhecida e não permitia ao
portador a classificação de deficiente das Forças Armadas, bem como o
respectivo subsídio.
Hoje, apesar de reconhecer a evolução, com “os protocolos devidamente
elaborados, os técnicos a saber o que fazer e os doentes a aparecerem”, o
psiquiatra lamenta que os doentes acabem por “encalhar” no sistema.
“Quando mandamos os processos para a concessão das regalias que [os doentes]
têm direito como deficientes das Forças Armadas – que não são assim
considerados enquanto a sua deficiência não for aceite pelo Ministério da
Defesa – isso é demorado”.
Afonso Albuquerque revelou que tem casos de doentes que “duram dez, doze, 13
anos e ainda estão à espera”.
E deixou o
alerta: “Estes deficientes têm uma longevidade menor e, por isso, vão morrendo.
Qualquer dia não temos nenhum, ou temos muito poucos, e podem morrer sem que
tenham recebido o que têm direito por lei”.
Presente neste encontro promovido pela Associação dos Deficientes das Forças
Armadas (ADFA), o director-geral de pessoal e recrutamento militar do
Ministério da Defesa, Alberto Coelho, garantiu que estes prazos vão seguramente
ser encurtados.
O director-geral da Saúde, Francisco George, sublinhou à agência Lusa que “o
sistema de saúde, em particular o serviço público, não pode ignorar a
importância que representa a síndrome pós-traumática, no conjunto dos problemas
de saúde mental e das doenças crónicas”.
Para Francisco George, que participou na cerimónia de abertura do seminário,
estes doentes “são cidadãos que têm direitos a todos os serviços e que, no
contexto da rede nacional de apoio, dispõem de vias verdes para terem acesso
fácil aos tratamentos no âmbito da psiquiatria e da psicologia”.
“Temos de ter em conta, com carácter de urgência, a importância de dar
respostas a este problema que não podem ser ignorados. São cidadãos que ficaram
traumatizados ao serviço de um país e que de forma alguma podemos deixar de
colocar numa prioridade absoluta estas questões”, disse.
O psicanalista Carlos Amaral Dias reconheceu à Lusa que as feridas dos
ex-combatentes são difíceis de sarar, até porque “o tempo passa, do ponto de
vista cronológico, mas o tempo psicológico, do inconsciente, mantém-se
imutável”.
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