1. A
memória prega-nos partidas
Recebo
mensagens de pessoas que me dizem que fizeram exames no ensino básico e não
lhes fez mal nenhum, mas que não têm idade para os ter feito. Estes exames
acabaram em 1974 e só voltaram com Nuno Crato. Exames nacionais não são testes
de sala de aula nem provas de aferição.
2. Sofrer não faz bem
Sobrevivemos
ao longo da nossa vida a muitas coisas más. Não as desejamos aos nossos filhos
e filhas, ainda que saibamos que não os podemos proteger de tudo. Impor algo
que traz sofrimento e não serve para nada é uma estúpida crueldade.
3. Os exames não ensinam nada
É
possível treinar crianças e jovens para fazer exames sem que tenham aprendido o
conhecimento básico de que necessitam para as suas vidas. Impor a pressão dos
exames a crianças não é ensinar, promover regras ou método. É incutir medo da
escola e o medo está no oposto da cidadania.
4. Acabar com os exames é levar a sério a avaliação
Os
alunos e as alunas são avaliados de diversas formas e ao longo de todo o ano,
seja por testes ou pela avaliação da sua prestação na sala de aula. Exames
nacionais não dizem nada sobre as conquistas e dificuldades dos processos de
aprendizagem e criam novos problemas. A lógica dos exames subalterniza todos os
dias da escola ao eventual sucesso num dia só e ao fazê-lo menoriza o
quotidiano na sala de aula e o papel das e dos professores.
5. Chumbar é ser facilitista
O
ensino básico tem de ser o percurso em que se aprende o conhecimento necessário
e acessível a todos e todas. O discurso da suposta exigência dos exames só
serve para esconder o falhanço das políticas: tiram-se meios às escolas e
depois chumbam-se as crianças que não se conseguirem safar. Exames no básico
substituem a exigência da aprendizagem pelo facilitismo da desistência.
6. Eu quero um cirurgião que saiba dar gargalhadas
Perguntaram-me
se eu quereria ser operada por um cirurgião que em vez de testado na escola
tenha sido feliz na escola. Não tenho nenhuma dúvida; quero que tenha sido
feliz, porque se aprende melhor quando se é feliz a aprender. E quero que não se
esqueça do que aprendeu no ensino básico, por muito bom que tenha sido, e
espero que o seja, na sua especialização. Espero que no ensino básico não se
tenha limitado a treinar para fazer exames; que tenha aprendido as bases de que
se faz o conhecimento todo e saiba usá-lo nas situações mais inesperadas e que
nenhum exame pode prever. Que saiba a Física necessária para gostar do Universe is
expanding dos Monty Phyton, a História para perceber a explicação sobre a origem da guerra do Blackadder, a
Filosofia para querer ouvir várias vezes o folclore do
Ricardo Araújo Pereira. Troquemos o facilitismo de Nuno Crato pela
exigência da gargalhada.
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