Diogo Santos,
sete anos, sofre de amaurose congénita de Leber, uma forma hereditária de perda
de visão. Um caso raro que acontece à nascença. Perdeu a visão nessa altura.
Nos primeiros cinco anos, frequentou o infantário da cidade, mas desde o
ano letivo 2014/2015, altura em que passou para o primeiro ciclo, Mirandela
deixou de ter capacidade de resposta, porque não existe uma escola de
referência nem foi colocada qualquer professora especializada em Braille.
O Estado criou uma rede de escolas de referência para a inclusão de alunos
cegos ou baixa visão. Na região transmontana, só havia duas: ou o Agrupamento
de Escolas Abade de Baçal, em Bragança, ou Diogo Cão, em Vila Real, escola sobre
a qual recaiu a escolha.
A rotina diária foi completamente alterada. Diogo levanta-se todos os dias
às sete horas para, meia hora depois, estar à porta de casa pronto a viajar até
Vila Real, onde frequenta a escola, numa turma com mais 25 alunos. São cerca de
60 quilómetros de táxi. "A escola contratou uma empresa para levar o Diogo
e outra menina de Cabanelas", conta o pai, Miguel Ângelo.
O regresso acontece cerca das 17.30 horas, com a chegada a casa às 18.15
horas. São 120 quilómetros diários. "Chega sempre muito cansado e temos
menos tempo para conviver porque à noite tem de deitar-se cedo para
descansar", conta Isabel Pereira, a mãe do Diogo. No entanto, apesar do
cansaço, "a sua ambição em aprender ajuda a ultrapassar tudo", conta
o pai.
Pai e mãe confessam que os primeiros meses de escola foram muito difíceis,
mas agora começam a adaptar-se. "Temos a noção que esta situação pode
aguentar-se até ao 12.º ano, mas como ele gosta e toda a comunidade escolar tem
sido fantástica, temos de aguentar", dizem.
Foi lá que aprendeu Braille, o alfabeto convencional cujos carateres são
indicações por pontos em alto-relevo que Diogo distingue por meio do tato. "Aqui
está o mês de outubro de 2016", descreve, com orgulho, num trabalho de
casa.
Recentemente, o Agrupamento de Escolas Diogo Cão fez a entrega de diplomas
a alguns alunos que ingressaram no quadro de mérito e excelência pelo seu
percurso académico. Diogo foi um dos distinguidos. "Não estava a contar,
só me disseram no dia anterior", conta.
A família não esconde o orgulho com a distinção. "Não foram muitos os
alunos a receberem esse diploma e o facto de ele ter resultados brilhantes, com
todas as limitações e o sacrifício que tem diariamente, faz-nos sentir muito
orgulhosos", refere o pai.
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