terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"... um gato é um poema." (Jean Burden)

O segundo gato

Em cada gato há outro gato
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco

Um gato incoincidente
com o gato, iridiscente, 
caminhando à sua frente

ou ao seu lado,
espírito alado
do que é terrestre no gato

É o segundo gato
que permanece acordado
com o gato afundado

em sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato.

Ou que mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,
O Gato (Picasso) e um poema de J. Luís Borges

às vezes assomando
nos olhos do gato
como um passado imóvel e

enclausurado.
O próprio gato 
não sabe

Que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si

Manuel António Pina (Todas as palavras reunidas)

Sem comentários:

Enviar um comentário