Pode dizer-se que as mulheres com deficiência vivem muitas vezes situações de grande ambivalência. Por um lado são mulheres - com tudo o que isso implica - e por outro têm uma deficiência que habitualmente é vista como uma coisa menor.
Estas mulheres são vistas como menores por serem mulheres e como menores por terem uma deficiência. E portanto, sofrem todas as agressões que as outras mulheres sofrem, agravado pelo facto de terem uma deficiência.
Tudo isto é agravado pela actual situação económica que Portugal atravessa e pelo novo acordo de concertação social que foi assinado pelo governo e alguns sindicatos, facilitador de despedimentos onde as mulheres (e no caso as mulheres com deficiência) serão as primeiras a ser despedidas ou dispensadas. Salvo, se forem mulheres com altas habilitações (mulheres com carreira académica), ou emprego assegurado.
Em seguida, com mais sucesso vêm as mulheres com deficiência visual, depois as mulheres com deficiência auditiva (devido à questão da comunicação) e por último as mulheres com deficiência mental ou doença mental, o que é também muito incapacitante.
É de realçar que, ao contrário de Portugal, nos países anglo-saxónicos se encontram muito mais mulheres com deficiência com sucesso académico, uma vez que as barreiras arquitectónicas são menores: há muito maior acessibilidade para os cidadãos com deficiência motora. É o caso de de Jackie Leach Scully, uma surda profunda inglesa com um vasto currículo académico e de participação no movimento dos cidadãos com deficiência, autora de vários livros entre eles o “Disability Bioethics: moral bodies, moral difference”.
Como essa autora defende, os corpos das mulheres com deficiência são essencialmente corpos morais, ou seja, corpos atingidos pela (má) ética, como é o caso das mulheres que são esterilizadas à força ou são vítimas de operações plásticas como aconteceu nos Estados Unidos onde uma família fez uma operação plástica a uma menina com síndrome de Down, para lhe retirar “os traços da deficiência” São casos extremos mas estas coisas acontecem devido ao enorme estigma que existe em relação à deficiência - em particular a deficiência mental - e normalmente as famílias fazem-no por razões parentais e institucionais.
Finalmente, estas mulheres geralmente não têm modelos, como as que não têm uma deficiência, e têm de descobrir por si só as potencialidades do seu corpo.
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