O mito da formação de professores
(…)
O reconhecimento da imprescindível
importância da formação de professores tem, no entanto, conduzido a exageros
que, de tanto incensar a formação, acabam por a tornar inatingível. Quando são
equacionadas as mudanças que são necessárias no sistema educativo, logo à
cabeça aparece a formação de professores. Ora, este realce, que parece benigno
e positivo, pode afinal não ser tão benigno e consensual como originalmente se
apresenta. Por três razões principais:
Em primeiro lugar considerar que a
formação de professores é a alavanca fundamental da inovação coloca o ónus do
conservadorismo nos professores: tudo estaria melhor, se os professores fossem
mais bem formados. Todos os outros fatores que constituem uma intrincada e
sólida rede de interesses que afeta a Educação (legislação, organização das
escolas, currículos, encarregados de educação, famílias, comunidades, etc.),
todos estes fatores são relegados para um segundo plano. Escolher a formação de
professores como o elemento fundamental de mudança conduz à desvalorização de
outros fatores que são, pelo menos, tão importantes quanto a formação. Este
pensamento convida ainda a pensar que os professores (isto é, a sua falta de
formação) são o verdadeiro problema da Educação. É inevitável citar em abono
desta perspetiva o recente estudo publicado pelo Conselho Nacional de Educação
sobre a dimensão das turmas e em que se sugere que a dimensão da turma pode ou
não ser um problema em função da atuação do professor. Aqui temos, de novo, a
ideia de que o professor e a sua formação são por si mesmo capazes de reverter
fatores educativos adversos.
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