Entrada no 3º período.
Começam as preocupações com as notas num processo enlouquecedor de medir as
crianças por meio de números, médias, comparando-as com os colegas,
distribuindo culpas, procurando soluções mágicas (como explicações intensivas
ou medicamentos milagrosos). Parece que todos os problemas e soluções
resumem-se aos números da pauta. Parte-se do pressuposto que o objetivo na
infância é ser bom aluno, como se a vida se medisse pelos resultados escolares.
Mas será que o sucesso mede-se em números? Serão esses números preditores de
conquistas e bons desempenhos? Um aluno de 5 é mais inteligente que um de 2?
Terá um melhor futuro? Será mais feliz?
Não pretendo desvalorizar as notas quantitativas
ou os resultados das provas escritas, mas apenas dar-lhes a importância
merecida. Esta avaliação tem limitações e é redutora. Mede principalmente a
capacidade para reter e reproduzir a informação dada, mas é claramente
insuficiente quando queremos avaliar a criança como um todo, nas áreas
cognitivas, sociais, emocionais, criativas.
Uma criança “com sucesso” vê-se por uma atitude
que exprime felicidade e entusiasmo nos vários contextos da sua vida. É uma
criança que gosta de aprender, que consegue resolver problemas quotidianos e
aplicar o que aprendeu noutros contextos, é curiosa, exploradora e inventiva.
Gosta de mexer-se e de actividade física. De sair e conhecer coisas e pessoas
novas. Com os outros cria e mantém relações afectivas, sabe interagir com
colegas e adultos e tira prazer dessas relações, confia nos adultos que a
rodeiam e pede ajuda quando necessita, ouve e respeita as diferentes opiniões,
forma opiniões próprias e expressa-as de forma adequada. Aceita as diferenças,
distingue o bem e o mal, respeita os desejos e sentimentos dos seus pares. Conhece
as suas capacidades e mostra boa auto-estima, faz uma boa gestão das suas
emoções, sabendo exteriorizar os seus sentimentos e lidar com eles de forma
adequada. Tem uma atitude positiva face ao esforço e ao fracasso. Tem valores
incutidos sobre honestidade, generosidade, humildade e capacidade de empatia.
Mostra uma atitude positiva perante a vida, tem prazer no dia-a-dia, brinca, é
criativa com o material, com as palavras, com as ideias e pensamentos. Tem
prazer em pensar, questionar, sente que a vida é uma aventura e o esforço vale
a pena e principalmente sabe que é amada pela família, pelos colegas, pelos
professores e que todos de esforçam para o seu bem-estar a todos os níveis.
Tantos alunos “nota 5” a quem o facto de não ter
sucesso nas outras áreas impede de avançar, de se relacionar com o mundo, de
criar relações. Tantas crianças “medíocres” ou com insucesso que farão
diferença positiva no mundo e naqueles que as rodeiam. O que é então uma
criança bem sucedida? Porque damos tanta importância aos números e
desvalorizamos outras competências? Temos um sistema de ensino que cada vez
valoriza mais os números… e menos as pessoas.
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