quinta-feira, 7 de abril de 2016

Cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas (Sérgio Godinho)

Salvem o gerúndio


      O gerúndio — como o mais-que-perfeito e o ponto e vírgula, na opinião de Montexto — também está condenado, isso é certo. Ainda ontem me perguntavam se deixaria passar, numa revisão, esta frase: «O festival que agora estamos organizando, etc.» Agora, a reler o Amor de Perdição, encontrei esta frase de uma personagem: «Sabíamos que ela era dama da Senhora D. Maria I; porém, da soberba com que nos tratou ficámos pensando que seria ela a própria rainha.» Mas as construções com gerúndio, isolado ou em locuções verbais, não são excepção, repetem-se. Qual Alentejo! A personagem é de Vila Real. Quer-nos parecer que o receio é esse, o de que se pense que o autor escreve como os alentejanos ou — supremo labéu — seja alentejano. Ou brasileiro, que, nestas coisas da língua, tem, a certos olhos, o mesmo estatuto menor. Temos de reabilitar o gerúndio.


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