Salvem o gerúndio
O gerúndio — como o
mais-que-perfeito e o ponto e vírgula, na opinião de Montexto — também está
condenado, isso é certo. Ainda ontem me perguntavam se deixaria passar, numa
revisão, esta frase: «O festival que agora estamos organizando, etc.»
Agora, a reler o Amor de Perdição, encontrei esta frase de uma
personagem: «Sabíamos que ela era dama da Senhora D. Maria I; porém, da soberba
com que nos tratou ficámos pensando que seria ela a própria rainha.» Mas as
construções com gerúndio, isolado ou em locuções verbais, não são excepção,
repetem-se. Qual Alentejo! A personagem é de Vila Real. Quer-nos parecer que o
receio é esse, o de que se pense que o autor escreve como os alentejanos ou —
supremo labéu — seja alentejano. Ou brasileiro, que, nestas coisas da língua,
tem, a certos olhos, o mesmo estatuto menor. Temos de reabilitar o gerúndio.
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