Quando vejo alguém comprar um livro não consigo,
sinceramente, ver no gesto um acto de consumo. Comprar um livro é, digo eu, um
acto de protecção e apoio à criação. Quando um leitor compra um livro, o gesto
tem duas facetas. Uma é pessoal e envolve o prazer da leitura e a conquista de
conhecimento; a outra é, de facto, uma dimensão social e económica,
porque na compra de um livro o leitor está a incentivar o editor, está a
dizer “continua!” a um livreiro. E está, acima de tudo, a convidar o autor, senão
para um almoço, pelo menos para um petisco ao fim da tarde. Esta gente,
editores, livreiros e escritores, faço notar, têm fome e têm sede. É o leitor
que as mata.
Ao comprar um livro, um leitor está a dar vida à criação. Para
mim, todo o leitor que compra um livro é um co-criador. Quem escreve todos os
dias “Os Maias”, do Eça, ou “A Ilha do Tesouro”, do Stevenson, são os leitores
que o compram e os lêem. Se há coisas que procuramos na vida, mesmo
involuntária e inconscientemente, e são, digo eu, conhecimento, harmonia e
prazer. Tres cosas hay en la vida e são mesmo estas as três coisas,
mesmo quando lhes damos outros nomes. Não conheço nenhum instrumento tão
alcoolicamente poderoso, tão desbragadamente variado e tão gloriosamente
democrático, para chegar a essas três coisas, como o livro.
O que irmana leitor e autor, leitor e escritor, leitor e poeta,
leitor e romancista é a sede e o gosto de criação. Que essa sede e esse
gosto nunca se percam, nunca pereçam. Compremos livros. O leitor que respira é
o pulmão da literatura.
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