Em casa só há uma televisão, está na sala. Não há
televisão à refeição, comemos na cozinha. É preciso negociar o que se quer ver
e, às vezes, até há discussões.
Há dias, para meu espanto, ela explicava um termo
desportivo e lamentou-se: sabia-o por ver tantas vezes os programas
da Eurosport quando o irmão não a deixa assistir aos que ela gosta. Depois ele
chega à sala e resmunga porque ela está sempre a ver as mesmas sitcoms
– "mas eu também vi o campeonato europeu de atletismo..." –
e ele lá se senta e vê-as.
Eu faço o mesmo, sento-me e vejo. Vi as séries de desenhos animados quando eles
eram pequenos, vejo as sitcoms e as séries mais teen,
voltamos a rever os filmes que vimos no cinema, e, a pouco e pouco, eles
vêem as séries e os filmes que eu e o pai gostamos. Nós mantemo-nos
actualizados e sabemos do que gostam os miúdos da idade deles, eles ganham
"cultura geral" a assistir aos clássicos do cinema.
Agora, estamos a ver a "Aldeia Francesa", na RTP2, depois do
telejornal. E, de repente, a Segunda Guerra é mais do que o Hitler e os campos
de concentração que já conhecem de outras séries, filmes e livros – primeiro O
rapaz do pijama às riscas, depois Se isto é um homem –, é
a ocupação, a Resistência, o comunismo, o racionamento, a corrupção, as
mulheres de classe alta aborrecidas com as suas pequenas vidas, as relações
proibidas, as crianças e a escola... E é o partilhar histórias de família,
daquela que não viveu a ocupação (a portuguesa, mas sofreu com a guerra) e a
que viveu (a chinesa, por parte dos japoneses, os bombardeamentos, a fuga,
etc).
Se tivessemos várias televisões teríamos menos momentos de partilha, de
negociação e de comunicação. Atenção, mas a harmonia nem sempre existe! Às
vezes não há consenso, o aparelho desliga-se e cada um vai para o seu canto,
fazer coisas mais úteis à sociedade!
BW