No romance Céu Nublado com Boas Abertas (Quetzal,
Fevereiro de 2016), Nuno Costa Santos (n. 1974) evoca a páginas 101 um episódio
caricato que ter-se-á passado com Samuel Beckett:
Um dia um homem encontrou Beckett na rua e bateu-lhe com
violência. O escritor foi à prisão perguntar-lhe porque é que havia tido essa
atitude. O homem deu a mais esclarecedora das respostas: «Não sei.»
35 páginas depois, o mesmo episódio volta a ser convocado:
Viver é isso: não encontrar um motivo concreto. Ou
encontrá-lo por um instante nalguma tradição, que se esfuma depressa, arrasada
ao primeiro dichote. Cristianismo, budismo, estoicismo, solidariedade, bondade.
Pergunto se o motivo estará algures no interior desta poeira espiritual. Não
sei, como o homem que bateu em Beckett.
Se alguém quiser acrescentar alguma coisa, faça favor.
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