quinta-feira, 26 de maio de 2016

Não o sei e sei-o bem (Fernando Pessoa)

No romance Céu Nublado com Boas Abertas (Quetzal, Fevereiro de 2016), Nuno Costa Santos (n. 1974) evoca a páginas 101 um episódio caricato que ter-se-á passado com Samuel Beckett:

Um dia um homem encontrou Beckett na rua e bateu-lhe com violência. O escritor foi à prisão perguntar-lhe porque é que havia tido essa atitude. O homem deu a mais esclarecedora das respostas: «Não sei.»

35 páginas depois, o mesmo episódio volta a ser convocado:

Viver é isso: não encontrar um motivo concreto. Ou encontrá-lo por um instante nalguma tradição, que se esfuma depressa, arrasada ao primeiro dichote. Cristianismo, budismo, estoicismo, solidariedade, bondade. Pergunto se o motivo estará algures no interior desta poeira espiritual. Não sei, como o homem que bateu em Beckett.

Se alguém quiser acrescentar alguma coisa, faça favor.


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