"Meu livro é para vós, para vós feito...
é para vós, mulheres do meu
país."
A obra escrita de Domingos Monteiro, em horas
de isolamento e de evasão,
revela, inevitavelmente, a
personalidade de um grande conversador.
Através das suas narrativas,
o escritor confessa-se e olha para o mundo
exterior, numa ânsia de
liberdade. Foi este anseio de liberdade
que o
levou, ainda jovem, a fundar
o "Partido da Renovação Democrática" e
depois o jornal "Diário
Liberal" de que foi membro da Comissão Directiva
e Director Executivo. Já licenciado, foi advogado de defesa de
Mário
Castelhano e de Manuel Rijo
e de muitos outros opositores do regime
político então vigente.
Domingos Monteiro tinha,
entretanto, contraído matrimónio com D.
Maria
Palmira de Aguilar Queimado
(1938). Deste casamento, nasceu a sua
única
filha, Estela, hoje
Professora da Faculdade de Medicina de
Lisboa.
O casamento foi dissolvido
por divórcio, em 1946, e só muito mais tarde,
em 1971, Domingos Monteiro
contrai de novo matrimónio, com D. Ana Maria
de Castro e Mello
Trovisqueira.
Já nessa altura os seus
méritos de Escritor tinham sido publicamente
reconhecidos. Em 1965 o seu livro O Primeiro Crime de Simão Bolandas
tinha recebido o "Prémio Nacional de Novelística"; no mesmo ano, o Dr.
Domingos Monteiro foi eleito
Sócio Correspondente da Academia de
Ciências de Lisboa. Como Sócio Efectivo, sucedeu, em 1969, na
Cadeira
que tinha pertencido a
Aquilino Ribeiro, logo antes de Delfim Santos.
O Brasil, por proposta de
Pedro Calmon e Jusoé Montello, entregou-lhe
igualmente o lugar que, na
Academia Brasileira de Letras tinha
pertencido a outros ilustres
escritores portugueses: Eugénio de
Castro,
Augusto de Castro e Joaquim
Paço d'Arcos.
Outras distinções
consagraram a sua obra: de novo o "Prémio Nacional de
Novelística", em 1972,
o "Prémio Diário de Notícias" em 1967.
Vários livros e contos foram
traduzidos em Castelhano,Catalão, Inglês,
Alemão, Polaco e Russo, e
incluídos em diversas antologias nacionais e
estrangeiras.
E o Cinema não deixou de aproveitar as suas novelas para a
realização
de grandes-metragens,
apresentadas nas salas de televisão.
Para além da sua actividade
de escritor e editor, à frente da Sociedade
de Expansão Cultural, que
durante vários anos divulgou as obras de
autores portugueses, muitos
deles até então inéditos, Domingos Monteiro
dedicou os últimos vinte e
dois anos da sua vida profissional ao Serviço
de Bibliotecas Itinerantes
da Fundação Calouste Gulbenkian, que ajudou a
criar.
Foi na novelística que
Domingos Monteiro mais se distinguiu. A
sua
prosa é directa e
fluente. António Quadros assim o
reconheceu, ao
afirmar:
"Uma novelística da
razão vital, como a que realizou, intuitiva e
exemplarmente, Domingos
Monteiro, é uma novelística que se amplia
a todas as dimensões de ser
homem, na sociedade, na natureza, no tempo e
no mistério de
existir."
Na bibliografia de Domingos
Monteiro só aparece uma obra ostensivamente
designada por romance, Caminho para Lá, talvez por ser
constituída por
dezoito capítulos. Seria a primeira de um tríptico que nunca foi
concluído.
Domingos Monteiro
considerava-se um poeta, embora quase toda a sua obra
tenha sido vertida em
prosa. Mas poeta era, sem dúvida. Para além dos
primeiros livros de versos
que publicou na sua juventude, e a que já
atrás nos referimos, apenas
nos deixou dois outros livros de poemas:
Evasão, publicado em 1953 e, mais recentemente, uma
colecção de
sonetos publicada em 1978.
Mas no seu espólio foram encontrados muitos
poemas inéditos, alguns dos
quais dedicados a sua futura Mulher, D.Ana
Maria. Num deles, talvez influenciado pela grande
diferença de idades,
diz:
"Nunca senti
passar o tempo... Nunca!
Nunca o tempo jamais
me perturbou...
E as folhas secas com
que o Outono junca o chão
sem mágoa ao próprio
vento as dou,
Nunca senti passar o
tempo... e agora
Do meu desdém, o tempo
se vingou
E só por ti minh'alma
se enamora
Humildemente, do que já
não sou.
Oh minha ardente
mocidade, volta!
Por um momento só. Que
eu viva apenas
Esse momento... e
possa merecê-la.
Que humildemente aceito, sem revolta,
Todas as dores, meu
Deus! todas as penas
E até a maior pena...
a de perdê-la!"
Foi a sua segunda Mulher que
teve um papel importante na génese dos seus
contos e narrativas,
publicados depois dos anos 60, colaborando
estreitamente com ele, em
todas as fases da elaboração do seu trabalho.
Domingos Monteiro
arquitectava o enredo dos seus livros e construia
mentalmente o plano da
obra. Os seus últimos livros foram
ditados a D.
Ana Maria como quem conta um
conto:
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