segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

...vão à janela um bocadinho, olhem, voltem, sentem-se e escrevam...

"Basta uma janela para me fazer feliz e foi o que me aconteceu também quando cheguei à Sala 19. Era o Castelo, era o Tejo, era a cidade de mármore e granito (como dizem) a espreitar para dentro da aula. Vai, que fiz eu? Como queria tomar o pulso aos rapazes em matéria de escrita, propus-lhes aquele tema.
«Da varanda da nossa aula» podia muito bem ser o título da redacção; mas também podia ser outro, à escolha do freguês. O que eles escrevessem serviria para eu ver como escreviam, como viam e como imaginavam. À maneira de preparação, disse-lhes:
«Suponham que está aqui uma chávena da China. Vocês têm de escrever a partir dela e podem fazê-lo contando que ela tem este ou aquele feitio, esta ou aquela cor, um desenho que representa isto ou aquilo e tem a asa do lado esquerdo. Mas também não dizer nenhuma destas coisas e imaginar, com os olhos nela, uma coisa passada na China: chinesinhos de rabicho, arroz comido com pauzinhos, sei lá o quê. Ou fantasiar um chá das cinco em que serviu aquela chávena: quem estava nesse chá, o que se disse, o que se passou durante essa hora. Posto o que, vão à janela um bocadinho, olhem, voltem, sentem-se e escrevam o que quiserem, com o título ou subtítulo “Da varanda da nossa aula”.»
Os rapazes, feito o honesto barulho de correrem à varanda, atiraram-se à obra. Eu fui pacatamente olhar Lisboa, porque quero começar a fazer-lhes sentir que eles não devem copiar(...)."

(...)O que era bom era dar sempre uma aula como a de hoje!” (22 de Outubro de 1949); “E foi o que eu ontem não consegui...” (25 de Março de 1949)(...)

Sebastião da Gama 


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