Como o professor pode ajudar crianças tímidas?
Toda a sala de aula conta com um punhado
de crianças agitadas, algumas desobedientes, que apresentam relutância em
seguir as regras. Toda a sala contém, também, outras crianças, essas pertencentes
a um segundo grupo, o dos “quietinhos”. Os quietinhos falam menos e em voz mais
baixa, obedecem sem pestanejar e costumam ser elogiados nas reuniões com os
pais.
Muito bom, certo? Dentre eles, porém, é
possível que haja crianças com sérios problemas relacionados à timidez e que
podem acabar negligenciadas. Afinal, quem demanda mais atenção do
professor? Normalmente, os bagunceiros recebem intervenções frequentes, em
detrimento daqueles que “não dão trabalho”.
O que é a timidez – e como
identificá-la?
A timidez é um traço de personalidade
como qualquer outro e, em doses moderadas, não prejudica o desenvolvimento da
criança nem é considerada doença. É o caso de crianças que possuem amigos e
conseguem se adaptar ao ambiente escolar (ou festas infantis, eventos
familiares, etc.), mesmo sendo discretas, retraídas.
Já quando a introspecção traz sofrimento
para a criança, é necessário observar e intervir. Esses são sinais aos
quais se deve ficar atento:
Ela evita passeios, excursões e outras
situações de interação social que deveriam ser prazerosas?
Procura se manter isolada e brinca
sozinha constantemente?
Sai correndo ou esconde-se diante de
estranhos ou grandes grupos de pessoas?
Tem baixo rendimento escolar por não
conseguir interagir com colegas ou professores (realizar atividades em grupo,
participar de rodas de conversa)?
Crianças tímidas têm baixa autoestima e
acreditam que estão sendo avaliadas o tempo todo. Seu medo é de não atingir as
expectativas dos colegas, por isso, elas se preocupam excessivamente com o que
dizer, como agir, o que vestir, como se comportar.
Quando se sentem expostas, essas
crianças apresentam alguns sintomas:
Suor;
Palmas das mãos geladas;
Frio na barriga ou enjoo;
Batimentos cardíacos acelerados;
Gagueira ou inabilidade de falar;
Angústia e nervosismo.
O que causa (ou agrava) a timidez?
A princípio, a timidez, assim como a
extroversão, é um traço genético – mas o ambiente tem um papel relevante em
apaziguá-la ou estimulá-la. O meio familiar influencia muito no comportamento
da criança: pais tímidos, que evitam situações sociais ou são pouco comunicativos,
transmitem essa inibição para os filhos (além de proporcionarem menos
oportunidades para que eles a superem, afinal, também querem evitar grandes
grupos).
O mesmo acontece quando a família
age de forma superprotetora, privando a criança de experiências e
relacionamentos externos. Adultos que agem como se o mundo fosse um perigo
constante para a criança acabam deixando-a insegura e retraída.
Ambientes agressivos ou instáveis também
pode ocasionar uma timidez excessiva.
Como o professor pode ajudar?
Em primeiro lugar, é importante que o
professor não exponha a criança a situações que causem constrangimento para
ela. Obrigar uma criança tímida a escrever no quadro-negro ou ler um texto,
sozinha, diante dos colegas, pode ser traumático. O acompanhamento deve ser
feito gradualmente, inserindo-a em contextos amigáveis em que ela se sinta
segura para colaborar.
o
Fortaleça o laço entre o professor e a
criança tímida: converse com ela em particular para descobrir seus interesses e
incentivar o diálogo. Ela precisa de ajuda para aprender a se expressar,
portanto, demonstre interesse, elogie e faça perguntas. Em sala de aula, o
aluno inibido pode se sentar perto do professor, para que consiga falar sem
precisar gritar ou se levantar (e, consequentemente, sem atrair muita atenção
para si).
o
Ensine sobre convivência e interação social: projetos que trabalhem
o respeito, a colaboração e o diálogo vão criar um ambiente seguro na escola.
Comece do básico, praticando pequenos gestos que gostaria de inserir na
rotina – olhar nos olhos do outro ao falar, sorrir, pedir “por favor” e “com
licença”, agradecer, oferecer ajuda aos colegas e professores.
o
Crie situações de trabalho em pequenos grupos: organize a turma em
duplas ou trios para criar situações de interação entre as crianças. O mais
indicado é que o professor defina os grupos com antecedência, assim, não há
risco de uma criança não ser escolhida pelos seus pares. Colocar duas crianças
tímidas juntas pode ser uma forma não ameaçadora de começar, afinal, nenhuma
das duas terá todo o protagonismo durante a atividade. Contudo, uma criança
tímida e outra, extrovertida, com certeza também vão se beneficiar muito do
relacionamento (nesse caso, procure pensar em assuntos que interessam ao
tímido, para que ele sinta que pode contribuir com a equipe).
o
Descubra os interesses da criança tímida e explore-os
em sala: ela gosta de insetos? Aviões? Construir castelos com blocos de montar?
Pintura com tinta guache? Falar sobre dinossauros? Encontre tópicos que sejam
do interesse da criança tímida para que ela tenha um incentivo a mais para
participar da aula.
o
Faça combinados: Quando a criança não
quiser participar de uma atividade, tente chegar a um meio termo. Talvez ela
não esteja preparada para cantar no palco em uma apresentação, mas será que não
gostaria de tocar um pandeiro para acompanhar a canção? Ler para os colegas, em
pé, em frente à classe, não pode ser substituído por ler apenas algumas linhas
sem se levantar?
Oriente a família da criança
Se for o caso, marque reuniões com os
pais e ajude-os a traçar um plano para superar a timidez. Encoraje-os a
participar de eventos da escola (como festa junina ou apresentação de Natal) e
sugira que convidem alguns coleguinhas do filho para brincar nos finais de
semana.
Os primeiros encontros podem ser breves,
de apenas algumas horas – assistir a um desenho animado, cozinhar algo gostoso,
passar a tarde na piscina, ir ao parque – e uma só criança pode ser convidada.
Mais adiante, eles podem experimentar visitas mais longas, como dormir na casa
do amigo ou viajar por alguns dias.
Outras atividades, como teatro, coral,
dança e esportes em equipe também são excelentes para fortalecer os vínculos
entre as crianças e cultivar a autoestima da criança tímida.
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