sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Não se tira nada de nada, o novo vem do antigo, mas nem por isso é menos novo." (Bertolt Brecht)

O estudo liderado por Rachel G. Klein mostrou que homens diagnosticados com TDAH na infância apresentam importante prejuízo funcional na vida adulta. Os pesquisadores acompanharam por 33 anos, desde a infância, 135 homens com TDAH e 136 homens sem TDAH. As pessoas com o transtorno tiveram piores desfechos educacionais, ocupacionais, econômicos e sociais, incluindo uma maior proporção de comportamento antissocial, uso de drogas, prisões e divórcio. Infelizmente, não se pode investigar a fundo o papel do tratamento sobre esses desfechos. Como os participantes tiveram seu diagnóstico ainda na década de 70, época em que se havia o preconceito de que os estimulantes causavam dependência, muitos dos pacientes tiveram seu tratamento interrompidos ao entrarem na adolescência. Os autores consideram que, de certo modo, a amostra pode ser considerada como de pessoas com TDAH não-tratadas, e reforça a necessidade de se instituir o tratamento adequado e que ele seja continuado. O TDAH não é um "jeito de ser" e uma "variação do comportamento normal", como muitos profissionais incompetentes ou de má fé (alguns ligados à Cientologia) vêm advogando.



Uma das consequências pouco observadas do TDAH é o impacto que ele pode ter no trânsito. Alguns trabalhos têm mostrado que os adultos com TDAH sofrem mais acidentes, os acidentes são mais graves e recebem mais multas por excesso de velocidade. Uma das novidades sobre esse assunto é que o tratamento medicamentoso pode melhorar o desempenho no trânsito. Durante uma simulação, as pessoas tratadas tiveram melhor tempo de reação e sofreram menos acidentes.

Ou seja, o tratamento medicamentos pode ser de grande valia para adultos, como já é bem estabelecida sua eficácia para crianças. A propósito, a ONG "ADHD Voices" investigou com famílias americanas e inglesas como as crianças viam o medicamento em suas vidas. O objetivo do trabalho era ver se as crianças realmente acham que ficam como "robôs" ou "zumbis" com o uso do medicamento, como alguns "cavaleiros do apocalipse" vêm dizendo por aí na mídia. Obviamente que as crianças deram respostas bastante positivas sobre o tratamento. Angie, uma americana de 11 anos, disse a respeito do tratamento: "Com a medicação, não é que você fica uma pessoa diferente. Você continua sendo a mesma pessoa, mas fazendo as coisas um pouco melhor". Os autores ressaltam que muitas crianças e adolescentes têm boa consciência sobre o papel do medicamento em suas vidas e elas podem (e devem!) ser incluídas na discussão do plano terapêutico.

Por fim, um outro estudo mostrou que dormir um pouquinho mais pode melhorar significativamente o comportamento das crianças e diminuir a agitação na escola. Essa questão já foi abordada em outras postagens deste blog. O estudo envolveu crianças de 7 a 11 anos, que dormiam em média 9,3 horas por noite, o que está abaixo das 10 horas recomendadas pelo Instituto de Saúde dos EUA (NIH). Os pesquisadores dividiram as crianças em dois grupos: um deles iria dormir uma hora a mais (na verdade, apenas 30 minutos foi adicionado) e o outro grupo teve uma hora de sono reduzida. A mudança no comportamento foi óbvia tanto para os pais quanto para os professores. O grupo privado de sono piorou em relação ao humor e ao comportamento, enquanto o grupo que dormiu meia hora a mais melhorou significativamente. O trabalho ressalta a importância de dormir bem e sugere que as mudanças sejam implementadas na rotina doméstica. Quando vira rotina, as crianças se adaptam e tudo fica mais fácil. Veja aqui como fazer uma higiene de sono para crianças e adolescentes.

Enfim, os estudos ressaltam que o TDAH é um problema sério e que deve receber tratamento apropriado e de forma continuada para se evitar problemas ao longo de toda a vida. O tratamento pode ser medicamentoso e psicoterápico, mas medidas como prática de atividade física, sono e alimentação adequadas são essenciais.

Referências:
1)  Klein et al. Clinical and Functional Outcome of Childhood Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder 33 Years Later. Arch Gen Psychiatry 2012. [Link]
2) ADHD Medication May Improve Driving Performance. Medscape. Oct 16, 2012. Apresentado em: 25th European College of Neuropsychopharmacology (ECNP) Congress. Abstract P.7.e.002. [Link]
3) Children With ADHD Say Stimulant Drugs Help Them. Medscape. Oct 15, 2012. [Link]
4) Gruber et al., Impact of Sleep Extension and Restriction on Children’s Emotional Lability and Impulsivity. Pediatrics 2012. [Link]


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