O estudo liderado por Rachel G. Klein mostrou que
homens diagnosticados com TDAH na infância apresentam importante prejuízo
funcional na vida adulta. Os pesquisadores acompanharam por 33 anos, desde a
infância, 135 homens com TDAH e 136 homens sem TDAH. As pessoas com o
transtorno tiveram piores desfechos educacionais, ocupacionais, econômicos e
sociais, incluindo uma maior proporção de comportamento antissocial, uso
de drogas, prisões e divórcio. Infelizmente, não se pode investigar a fundo o
papel do tratamento sobre esses desfechos. Como os participantes tiveram seu
diagnóstico ainda na década de 70, época em que se havia o preconceito de que
os estimulantes causavam dependência, muitos dos pacientes tiveram seu
tratamento interrompidos ao entrarem na adolescência. Os autores consideram
que, de certo modo, a amostra pode ser considerada como de pessoas com TDAH
não-tratadas, e reforça a necessidade de se instituir o tratamento adequado e
que ele seja continuado. O TDAH não é um "jeito de ser" e uma
"variação do comportamento normal", como muitos profissionais
incompetentes ou de má fé (alguns ligados à Cientologia) vêm advogando.
Uma das consequências pouco observadas do TDAH é o impacto que ele pode ter no
trânsito. Alguns trabalhos têm mostrado que os adultos com TDAH sofrem mais
acidentes, os acidentes são mais graves e recebem mais multas por excesso de
velocidade. Uma das novidades sobre esse assunto é que o tratamento
medicamentoso pode melhorar o desempenho no trânsito. Durante uma simulação, as
pessoas tratadas tiveram melhor tempo de reação e sofreram menos acidentes.
Ou seja, o tratamento medicamentos pode ser de grande valia para adultos, como
já é bem estabelecida sua eficácia para crianças. A propósito, a ONG "ADHD
Voices" investigou com famílias americanas e inglesas como as crianças
viam o medicamento em suas vidas. O objetivo do trabalho era ver se as crianças
realmente acham que ficam como "robôs" ou "zumbis" com o
uso do medicamento, como alguns "cavaleiros do apocalipse" vêm
dizendo por aí na mídia. Obviamente que as crianças deram respostas bastante
positivas sobre o tratamento. Angie, uma americana de 11 anos, disse a respeito
do tratamento: "Com a medicação, não é que você fica uma pessoa diferente.
Você continua sendo a mesma pessoa, mas fazendo as coisas um pouco
melhor". Os autores ressaltam que muitas crianças e adolescentes têm boa
consciência sobre o papel do medicamento em suas vidas e elas podem (e devem!)
ser incluídas na discussão do plano terapêutico.
Por fim, um outro estudo mostrou que dormir um pouquinho mais pode melhorar
significativamente o comportamento das crianças e diminuir a agitação na escola.
Essa questão já foi abordada em outras postagens deste blog. O estudo envolveu
crianças de 7 a 11 anos, que dormiam em média 9,3 horas por noite, o que está
abaixo das 10 horas recomendadas pelo Instituto de Saúde dos EUA (NIH). Os
pesquisadores dividiram as crianças em dois grupos: um deles iria dormir uma
hora a mais (na verdade, apenas 30 minutos foi adicionado) e o outro grupo teve
uma hora de sono reduzida. A mudança no comportamento foi óbvia tanto para os
pais quanto para os professores. O grupo privado de sono piorou em relação ao
humor e ao comportamento, enquanto o grupo que dormiu meia hora a mais melhorou
significativamente. O trabalho ressalta a importância de dormir bem e sugere
que as mudanças sejam implementadas na rotina doméstica. Quando vira rotina, as
crianças se adaptam e tudo fica mais fácil. Veja aqui como fazer uma higiene de
sono para crianças e adolescentes.
Enfim, os estudos ressaltam que o TDAH é um problema sério e que deve receber
tratamento apropriado e de forma continuada para se evitar problemas ao longo
de toda a vida. O tratamento pode ser medicamentoso e psicoterápico, mas
medidas como prática de atividade física, sono e alimentação adequadas são
essenciais.
Referências:
1) Klein et al. Clinical and Functional Outcome of Childhood
Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder 33 Years Later. Arch Gen Psychiatry
2012. [Link]
2) ADHD Medication May Improve Driving Performance. Medscape. Oct 16, 2012.
Apresentado em: 25th European College of Neuropsychopharmacology (ECNP) Congress.
Abstract P.7.e.002. [Link]
3) Children With ADHD Say Stimulant Drugs Help Them. Medscape. Oct 15, 2012.
[Link]
4) Gruber et al., Impact of Sleep Extension and Restriction on Children’s
Emotional Lability and Impulsivity. Pediatrics
2012. [Link]
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