- Eu? Eu não leio livros! - diz Inerio.
- Então o que lês?
- Nada: Habituei-me tão bem a não
ler que nem leio sequer o que me aparece diante dos olhos por acaso. Não é fácil:
ensinam-nos a ler desde miúdos e durante toda a vida fica-se escravo de toda a
escrita que nos põem à frente. Se calhar também tive de fazer um esforço, nos primeiros
tempos, para aprender a não ler, mas agora já é uma coisa natural. O segredo e
não se recusar a olhar as palavras escritas, pelo contrário, tem de se olhá-las
intensamente até desaparecerem.
(…)
Tentas imaginar como pode parecer
o mundo, este mundo denso de escrita que nos cerca por todos os lados, a alguém
que aprendeu a não ler. E ao mesmo tempo perguntas-te que relação poderá haver
entre a Leitora e o Não Leitor e de repente achas que é precisamente a
distância entre eles que os mantêm unidos, e não consegues reprimir um
sentimento de ciúme.
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