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A formação em matemática tem duas especificidades. Por um
lado, a aprendizagem é sequencial. Não se compreende a fase seguinte sem dispor
dos conhecimentos prévios, ou seja, as bases, os alicerces em que assentarão os
saberes subsequentes. Claro que quando falham as bases, falha toda a
progressão. Quem não entendeu a matéria do sétimo ou oitavo ano de escolaridade
dificilmente recuperará mais tarde. Por outro lado, nesta ciência os
conhecimentos chegam aos alunos apenas através do sistema de ensino, das aulas.
Não há estímulos exteriores à aprendizagem. Contrariamente a outras áreas, como
a história, as línguas ou as artes, em que há aquisição de conhecimentos
através da televisão, a ler jornais ou em viagens e visitas a exposições – na
matemática só se adquire conhecimento na escola. Se esta falha, falha tudo. E
infelizmente o sistema de ensino não tem garantido a devida qualidade dos
professores. Um mau professor, que não consiga transmitir devidamente o saber,
quebra a cadeia de conhecimentos e impede a progressão nos anos seguintes.
Falhando um elo na cadeia, esta quebra e fica destruída a carreira de
aprendizagem talvez para toda a vida. Num só ano, um mau professor pode
prejudicar a vida de dezenas de alunos. Os efeitos em termos da estrutura de
recursos humanos do País são desastrosos. Muitos dos que poderiam ter ido para
ciências ou engenharia – e apenas para fugir às matemáticas – vão para letras
ou humanidades, áreas de emprego escasso. Engrossam assim o rol dos
desempregados. Acresce que os portugueses são diariamente bombardeados com
números que não entendem. Para sorte dos políticos! Se o povo entendesse o seu
real significado, a revolução não tardaria a chegar.
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