Primeira associação de surf adaptado é portuguesa
O projeto
saiu pela primeira vez à rua em 2009, com o nome "Estado Líquido".
Depois do acidente que o deixou paraplégico aos 18 anos, Nuno (na foto abaixo)
viu-se afastado do mar. Por muito que tentasse o contrário, a cadeira de rodas
punha sempre um travão quando Nuno se aproximava do oceano. Até que um dia
pediu ajuda aos amigos.
"Não
correu muito bem", contou ao Boas Notícias. "As pernas eram um peso
morto na prancha e percebemos logo que ia ser muito complicado." Mas nem
assim desistiu. Falou com amigos, conhecidos, família e, com a ajuda de
especialistas na área, criou uma prancha adaptada para o seu perfil
motor.
Pouco tempo
depois estava de volta ao mar. Em cima de uma prancha e a sentir a força do
oceano nas ondas que apanhava, voltou a sentir o que era estar em "estado
líquido".
"Estado líquido porque somos só nós e a água quando estamos lá dentro. Não é preciso cadeira de rodas, não é preciso pernas, não é preciso nada. Somos nós e o mar... A ligação é tão forte que nós próprios nos sentimos líquidos", explica Nuno Vitorino, que foi também nadador paralímpico.
Foi então
que surgiu o "Estado Líquido". "Os meus amigos disseram que eu
estava a ser egoísta por guardar esta experiência só para mim e incentivaram-me
a criar um projeto que permitisse aos outros ter a mesma oportunidade que
eu", conta.
Todos têm
direito a desfrutar do mar
A adesão foi imediata e rapidamente ganhou novas proporções, levando à criação da primeira associação de surf adaptado da Europa. A SURFaddict apresentou-se ao país e ao mundo em 2012, como uma organização sem fins lucrativos, empenhada em levar a prática de surf a todos os que tenham dificuldades motoras e mobilidade reduzida - pessoas com deficiência ou até mesmo pessoas mais idosas, sendo que o aluno mais velho tem 82 anos. O lema é o de que todos têm direito a desfrutar do mar.
"Hoje, ultrapassadas todas as barreiras políticas e feita toda uma campanha de sensibilização junto das principais entidades marítimas (capitanias, Instituto Hidrográfico, Instituto de Socorros a Náufragos e Marinha Portuguesa), estamos bem encaminhados, com inúmeras iniciativas pelo país e, inclusive, inscritos na Federação Portuguesa de Surf", conta o responsável.
Depois dos Açores, Peniche, Algarve, Alentejo e Figueira da Foz, o próximo evento é já no dia 6 de Julho, na praia da Ribeira d'Ilhas, na Ericeira. Aberto ao público e destinado a todos os que quiserem apanhar algumas ondas, este será apenas mais um exemplo das muitas iniciativas promovidas pela SURFaddict.
"A
ideia é mostrar que o surf adaptado pode ir a qualquer lado, a qualquer praia,
seja ela grande ou pequena". Em todas as iniciativas (assinaladas no local
como "Fábrica dos Sorrisos") há um grupo de voluntários que se junta
para ajudar todos os que aparecem para participar.
"Estas
coisas envolvem sempre muita gente. Já chegamos a meter, num só evento, 300 pessoas
na água", conta Nuno Vitorino ao Boas Notícias. "Além disso, como
isto é algo a nível nacional, há pessoas a vir de longe, a fazer centenas de
quilómetros para se juntarem a nós".
Para além
deste tipo de iniciativas, a SURFaddict promove ainda diversas campanhas de
sensibilização junto das escolas desta modalidade. "Queremos ajudar o
maior número de escolas possível a pôr pessoas com deficiência na água. Por
isso, é importante para nós promover este tipo de cursos. Desta forma estamos a
levar cada vez mais gente para o mar! Gente que pensava que nunca
conseguiria!"
O primeiro
fato de surf adaptado do mundo
Foi também
graças à associação que nasceu a primeira linha de pranchas adaptadas.
"Temos um grupo técnico a trabalhar connosco, com especialistas em várias
áreas com deficiência. Começaram por criar pranchas adaptadas a diferentes
perfis motores e agora idealizaram o primeiro fato adaptado para surf do
mundo".
Este fato "é mais elástico, mais maleável, tem um fecho que vai da meia perna para baixo (para vestir tipo calção), velcros entre as pernas para as segurar, e um fecho, atrás, com uma abertura muito maior. É muito mais fácil de vestir, permite uma grande autonomia e facilita imenso a prática da modalidade", explica Nuno.
Este fato "é mais elástico, mais maleável, tem um fecho que vai da meia perna para baixo (para vestir tipo calção), velcros entre as pernas para as segurar, e um fecho, atrás, com uma abertura muito maior. É muito mais fácil de vestir, permite uma grande autonomia e facilita imenso a prática da modalidade", explica Nuno.
Hoje, Nuno
não acredita em barreiras físicas que impeçam alguém de apanhar uma onda. Quer
fazer da SURFaddict um movimento cada vez maior e levar o mar a todos aqueles
que pensam estar bem longe dele.
Para isso,
pede todo o tipo de apoios financeiros, que o ajudem a tornar o surf uma
prática acessível a todos, sem restrições. "Isto não é fácil e obviamente
que implica custos. Fazemos inúmeras deslocações e há sítios em que é preciso
marcar alojamento. Além disso, oferecemos almoço em cada um dos nossos
eventos.. E, lá está, nada disto é possível sem o apoio e contributo da
sociedade civil."
Ainda assim,
a adesão tem sido "brutal" e o número de participantes regulares é
cada vez maior. Por isso mesmo, e para levar as ondas a todo o lado, Nuno
promete uma coisa: "Comunidade surfista, preparem-se! O calendário para os
próximos tempos está completamente cheio!"
Clique AQUI para aceder ao site da SURFaddict e AQUI para conhecer a página de Facebook.
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