A transformação de que a Escola
portuguesa está a ser alvo — operada por este governo e pelos dois anteriores —
é a progressiva concretização da crença de que as sociedades são, na sua
essência, empresas e mercados, e apenas isso. Cada ramo de actividade que as
sociedades desenvolvem deve ser visto, independentemente da sua natureza, como
uma actividade empresarial. É isto que conta, é isto que interessa.
Na base
desta crença, estão, entre outras, três convicções. A primeira considera que
toda a actividade humana fundamental pode e deve ser lida através da linguagem
numérica — à semelhança do que se passou, há cerca de quatro séculos, com
a compreensão dos fenómenos físicos, há quem acredite e deseje que os fenómenos
humanos também possam ser reduzidos à sua matematização. As folhinhas de Excel
vieram reforçar este convencimento e este desejo. A segunda considera que toda
a actividade humana fundamental é a actividade produtiva. A terceira
considera que toda a actividade visa sempre um lucro.
O mundo é,
pois, no essencial, um enorme mercado de empresas que concorrem entre si. Para
se gerir o mundo, tem de se dominar as técnicas de gestão empresarial, de se
adoptar os valores da gestão empresarial e os objectivos da gestão empresarial.
A Escola, que forma cidadãos para o
mundo, deve ser moldada a estes pressupostos. A própria escola deve ser vista e
tratada como uma empresa que trabalha num e para um mercado.
Fruto destas
crenças, começou a desenvolver-se a ideia de «competitividade» entre as
escolas. Se as empresas competem entre si, as escolas também têm de competir.
Para alimentar essa «competitividade», criaram-se, entre outras coisas, os rankings.
Modo obsceno, mas com enquadramento «empresarial», de, pretensamente, medir o
trabalho realizado nas escolas e de fornecer informações ao «mercado».
Fruto destas
crenças, alteraram-se os modelos de gestão escolar. Um exemplo dessa mudança de
arquétipo é o modelo que Sócrates e Rodrigues instauraram, e que este governo
lepidamente continuou. Esse modelo é uma cópia — uma cópia grosseira, mas uma
cópia — de um organograma empresarial. Desde a ideia, composição e funções do
órgão «Conselho Geral», passando pelo processo de escolha e funções do órgão
uninominal «Director», até à composição e processo de formação do órgão
«Conselho Pedagógico», tudo constitui uma réplica atabalhoada de uma
administração empresarial.
Fruto destas
crenças, tem sido cada vez mais difundida a designação de «cliente», aplicada
ao aluno. Entre nós, esta designação tem sido particularmente utilizada e
difundida por empresas — constituídas e apadrinhadas pelo ministério da
Educação do tempo de Rodrigues —, que se propuseram e propõem fazer
programas informáticos de auto-avaliação das escolas, e já começa a ser
recorrentemente utilizada por directores de escolas e por alguns professores.
Os alunos passam a clientes, as escolas a empresas, os professores a vendedores
e a educação a um produto de consumo.
Estes são
alguns dos elementos fundadores da «nova» Escola que Portugal, e alguns outros
países, está alegremente a construir.
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