quarta-feira, 15 de maio de 2013

Queremos a Escola do Excel ou a Escola da Excelência?


A transformação de que a Escola portuguesa está a ser alvo — operada por este governo e pelos dois anteriores — é a progressiva concretização da crença de que as sociedades são, na sua essência, empresas e mercados, e apenas isso. Cada ramo de actividade que as sociedades desenvolvem deve ser visto, independentemente da sua natureza, como uma actividade empresarial. É isto que conta, é isto que interessa. 
Na base desta crença, estão, entre outras, três convicções. A primeira considera que toda a actividade humana fundamental pode e deve ser lida através da linguagem numérica — à semelhança do que se passou, há cerca de quatro séculos, com a compreensão dos fenómenos físicos, há quem acredite e deseje que os fenómenos humanos também possam ser reduzidos à sua matematização. As folhinhas de Excel vieram reforçar este convencimento e este desejo. A segunda considera que toda a actividade humana fundamental é a actividade produtiva. A terceira considera que toda a actividade visa sempre um lucro.
O mundo é, pois, no essencial, um enorme mercado de empresas que concorrem entre si. Para se gerir o mundo, tem de se dominar as técnicas de gestão empresarial, de se adoptar os valores da gestão empresarial e os objectivos da gestão empresarial.
A Escola, que forma cidadãos para o mundo, deve ser moldada a estes pressupostos. A própria escola deve ser vista e tratada como uma empresa que trabalha num e para um mercado.
Fruto destas crenças, começou a desenvolver-se a ideia de «competitividade» entre as escolas. Se as empresas competem entre si, as escolas também têm de competir. Para alimentar essa «competitividade», criaram-se, entre outras coisas, os rankings. Modo obsceno, mas com enquadramento «empresarial», de, pretensamente, medir o trabalho realizado nas escolas e de fornecer informações ao «mercado».
Fruto destas crenças, alteraram-se os modelos de gestão escolar. Um exemplo dessa mudança de arquétipo é o modelo que Sócrates e Rodrigues instauraram, e que este governo lepidamente continuou. Esse modelo é uma cópia — uma cópia grosseira, mas uma cópia — de um organograma empresarial. Desde a ideia, composição e funções do órgão «Conselho Geral», passando pelo processo de escolha e funções do órgão uninominal «Director», até à composição e processo de formação do órgão «Conselho Pedagógico», tudo constitui uma réplica atabalhoada de uma administração empresarial.
Fruto destas crenças, tem sido cada vez mais difundida a designação de «cliente», aplicada ao aluno.  Entre nós, esta designação tem sido particularmente utilizada e difundida por empresas — constituídas e apadrinhadas pelo ministério da Educação do tempo de Rodrigues —,  que se propuseram e propõem fazer programas informáticos de auto-avaliação das escolas, e já começa a ser recorrentemente utilizada por directores de escolas e por alguns professores. Os alunos passam a clientes, as escolas a empresas, os professores a vendedores e a educação a um produto de consumo.
Estes são alguns dos elementos fundadores da «nova» Escola que Portugal, e alguns outros países, está alegremente a construir.

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