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TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Surpreendentemente, a
resposta a esta pergunta depende do fato de você morar na França ou nos
Estados Unidos. Nos Estados Unidos, os psiquiatras pediátricos
consideram o TDAH como um distúrbio biológico, com causas biológicas. O
tratamento de escolha também é biológico – medicamentos estimulantes
psíquicos, tais como Ritalina e Adderall.
Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, vêem o TDAH como uma
condição médica que tem causas psico-sociais e situacionais. Em vez de
tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os
médicos franceses preferem avaliar o problema subjacente que está
causando o sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o
contexto social da criança. Eles, então, optam por tratar o problema do
contexto social subjacente com psicoterapia ou aconselhamento familiar.
Esta é uma maneira muito diferente de ver as coisas, comparada à
tendência americana de atribuir todos os sintomas de uma disfunção
biológica a um desequilíbrio químico no cérebro da criança.
Os psiquiatras infantis franceses não usam o mesmo sistema de
classificação de problemas emocionais infantis utilizado pelos
psiquiatras americanos. Eles não usam oDiagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders ou DSM. De acordo com o sociólogo Manuel Vallee, a
Federação Francesa de Psiquiatria desenvolveu um sistema de
classificação alternativa, como uma resistência à influência do DSM-3.
Esta alternativa foi a CFTMEA (Classification Française des Troubles
Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent), lançado pela primeira vez em
1983, e atualizado em 1988 e 2000. O foco do CFTMEA está em identificar e
tratar as causas psicossociais subjacentes aos sintomas das crianças, e
não em encontrar os melhores bandaids farmacológicos para mascarar os
sintomas.
Na medida em que os médicos franceses são bem sucedidos em encontrar e
reparar o que estava errado no contexto social da criança, menos
crianças se enquadram no diagnóstico de TDAH. Além disso, a definição de
TDAH não é tão ampla quanto no sistema americano, que na minha opinião,
tende a “patologizar” muito do que seria um comportamento normal da
infância. O DSM não considera causas subjacentes. Dessa forma, leva os
médicos a diagnosticarem como TDAH um número muito maior de crianças
sintomáticas, e também os incentiva a tratar as crianças com produtos
farmacêuticos.
A abordagem psico-social holística francesa também permite considerar
causas nutricionais para sintomas do TDAH, especificamente o fato de o
comportamento de algumas crianças se agravar após a ingestão de
alimentos com corantes, certos conservantes, e / ou alérgenos. Os
médicos que trabalham com crianças com problemas, para não mencionar os
pais de muitas crianças com TDAH, estão bem conscientes de que as
intervenções dietéticas às vezes podem ajudar. Nos Estados Unidos, o
foco estrito no tratamento farmacológico do TDAH, no entanto, incentiva
os médicos a ignorarem a influência dos fatores dietéticos sobre o
comportamento das crianças.
E depois, claro, há muitas diferentes filosofias de educação infantil
nos Estados Unidos e na França. Estas filosofias divergentes poderiam
explicar por que as crianças francesas são geralmente mais bem
comportadas do que as americanas. Pamela Druckerman destaca os estilos
parentais divergentes em seu recente livro, Bringing up Bébé. Acredito
que suas idéias são relevantes para a discussão, por que o número de
crianças francesas diagnosticadas com TDAH, em nada parecem com os
números que estamos vendo nos Estados Unidos.
A partir do momento que seus filhos nascem, os pais franceses oferecem
um firme cadre- que significa “matriz” ou “estrutura”. Não é permitido,
por exemplo, que as crianças tomem um lanche quando quiserem. As
refeições são em quatro momentos específicos do dia. Crianças francesas
aprendem a esperar pacientemente pelas refeições, em vez de comer
salgadinhos, sempre que lhes apetecer. Os bebês franceses também se
adequam aos limites estabelecidos pelos pais. Pais franceses deixam seus
bebês chorando se não dormirem durante a noite, com a idade de quatro
meses.
Os pais franceses, destaca Druckerman, amam seus filhos tanto quanto os
pais americanos. Eles os levam às aulas de piano, à prática esportiva, e
os incentivam a tirar o máximo de seus talentos. Mas os pais franceses
têm uma filosofia diferente de disciplina. Limites aplicados de forma
coerente, na visão francesa, fazem as crianças se sentirem seguras e
protegidas. Limites claros, eles acreditam, fazem a criança se sentir
mais feliz e mais segura, algo que é congruente com a minha própria
experiência, como terapeuta e como mãe. Finalmente, os pais franceses
acreditam que ouvir a palavra “não” resgata as crianças da “tirania de
seus próprios desejos”. E a palmada, quando usada criteriosamente, não é
considerada abuso na França.
Como terapeuta que trabalha com as crianças, faz todo o sentido para mim
que as crianças francesas não precisem de medicamentos para controlar o
seu comportamento, porque aprendem o auto-controle no início de suas
vidas. As crianças crescem em famílias em que as regras são bem
compreendidas, e a hierarquia familiar é clara e firme. Em famílias
francesas, como descreve Druckerman, os pais estão firmemente no comando
de seus filhos, enquanto que no estilo de família americana, a situação
é muitas vezes o inverso.
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