... se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei.
... um
bom ano para todos/as. devia começar por lhes explicar o que é o calendário
gregoriano. ou dizer que sou daqueles que pensa que o tempo não existe. talvez
como santo agostinho. se ninguém me perguntar eu sei,
porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei. assusta-me
muitas vezes este lado de mim que não desliga. o que querer ensinar. o de
tentar ensinar. o de explicar que as coisas nem sempre foram assim. que o tempo
já foi outro. já foi medido de outra forma. assim como tudo o resto. que por cá
as casas não tem nome mas as ruas sim e no oriente é ao contrário. que a
pintura e a escultura nem sempre foram públicas. e assusta-me que cada vez mais
nos esquecemos de ensinar. replicamos. reproduzimos. "damos matéria".
"cumprimos programa". e este acto de explicar se perde cada vez mais.
que cada vez mais ensinamos o presente. o que está aqui e agora. o que é assim.
como se tivesse sempre sido assim. ou então o empreendedorismo como se isso
fosse mudar o que aqui e agora já está obsoleto. ainda recentemente fui dar uma
aula convidado para ensinar a ler imagens a alunos. peguei no símbolo da nike.
a percepção que nada de novo existe é assustadora quando olhamos atempadamente para
uma coisa. as asas da deusa grega, lógica de vitória. as mesmas das asas de
asterix. e as mesas asas prometidas por uma bebida energética ou símbolo de uma
companhia aérea. e nós já perdemos esse tempo para ensinar que nada disso está
desligado. porque o programa e a matéria não permitem tais devaneios. porque
deixamos cada vez mais de pensar. tudo se revela novo e óbvio. e somos
enganados. deixamos que nos enganem. vamos com a ideia que nos vendem. a nós
que devíamos ensinar. a nós que sabemos a razão das coisas. a história das
coisas. e geramos alunos de agora. para agora. para consumo. para o momento
imediato. reproduzimos quando devíamos ensinar. e depois esperamos por uma
[r]evolução. alguém tem que mudar isto. mas nós não. nós reproduzimos para eles
reproduzirem. e esperamos deles aquilo que já não fazemos. que rompam com a
lógica. que criem uma nova ordem. nós não. nós temos que cumprir. reproduzir.
ensinar é um acto perdido no meio de tudo isto. estamos envolvidos nesse,
neste, naquele sistema. no sistema educativo. somos mais matéria do que saber.
e ensinar precisa de saber mais do que matéria. saber pensar. saber ver. saber.
e agora que o tempo corre sempre igual, ensinemos isso aos nossos alunos.
talvez só isso. que eles vivem hoje num tempo que nunca foi contado assim.
houve um tempo em que era o céu que ditava as regras. o tempo contado pelo
nascer e morrer do sol em cada dia. sem horas. sem reproduções de matéria em
minutos contados por um tempo que não existe. e hoje, porque tenho tempo, apeteceu-me
pensar nisto...
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