A
propósito da entrevista de Teresa Calçada, até há pouco responsável pela Rede
de Bibliotecas Escolares,
algumas notas depois de sublinhar o trabalho po si realizado ao longo destes
anos.
Na
entrevista é muito focado o papel dos recursos, livros e bibliotecas, e da sua
acessibildade bem como do impacto das novas tecnologias e os riscos decorrentes
das dificuldades económicas para este tipo de projectos.
Como
várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a questão central não é de
livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou o papel dos
"tablets", a questão central é o LEITOR, ou seja, o essencial é criar
leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços
ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferente, papel ou
electrócnico.
Creio
que também estaremos de acordo que um leitor se constrói desde o início do
processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente de
literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações,
através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam,
muitas vezes são, estimuladas e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos
pais algumas orientações.
Nos
primeiros anos de escolaridade é fundamental uma relação estreita com a
leitura, não só com os aspectos técnicos, por assim dizer, da aprendizagem da
leitura e da escrita da língua portuguesa, mas um contacto estreito e regular
com a actividade de leitura, seja do que for, considerando motivações e
culturas diferenciadas apresentadas pelos alunos.
Só
se aprende a ler lendo, só se aprende a escrever, escrevendo, etc.
Neste
contexto, não posso deixar de ficar um pouco preocupado com o rumo da educação
escolar, neste caso centrando-me no 1º e 2º ciclos, com a introdução das metas
de aprendizagem com os conteúdos e volume que apresentam.
Como
muitas vezes tenho afirmado e alguns estudos vão demonstrando, as metas
curriculares, tal como estão definidas na formulação e quantidade, pois não tem
que ser assim, transformam o trabalho do professor com turmas lotadas na gestão
de uma checklist de realizações. Como exemplo, para Português no 1º ciclo temos
um total de 177 objectivos e 703 descritores. Por anos, temos no 1º ano 33
objectivos e 143 descritores, no 2º ano, 47 objectivos e 168 descritores, no 3º
ano, 51 objectivos e 202 descritores e no 4º ano, 46 objectivos e 190
descritores. Se juntarmos Matemática teremos mais 72 objectivos e 323
descritores. É obra!
Parece
relativamente claro que com este caderno de encargos obrigatório, sublinhe-se,
o tempo para ler, apenas ler, dificilmente se conseguirá.
A
relação das crianças com os materiais de leitura e escrita assentará nos
manuais e na aquisição pressionada dos ""descritores" e pouco
mais. Restará o tempo das AECs onde, apesar de algumas experiências
interessantes, também nem sempre têm os conteúdos mais adequados e o tempo de
casa que em muitas famílias, cada vez mais famílias, é curto.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, acho difícil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" para ler e não para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, acho difícil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" para ler e não para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível.
Oxalá
me engane mesmo.
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