Organizada pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos, realizou-se hoje na Faculdade de Psicologia e de
Ciências das Educação da Universidade de Coimbra uma conferência intitulada Avaliação dos
alunos.
A primeira intervenção nessa
conferência foi feita por Jeffrey D. Karpicke, investigador principal do Laboratório
de Cognição da Aprendizagem da Universidade de Purdue, Estados Unidos
da América. Na linha de trabalho de autores como R.E. Mayer e de H.L. Roediger,
este psicólogo interessa-se pelo estudo duma questão relativamente
nova mas já entendida como de grande importância em matéria de avaliação
académica: a contribuição desta avaliação para a própria aprendizagem.
Assim, às funções clássicas da avaliação
académica (diagnóstica, formativa e sumativa), vocacionadas para
a verificação da aprendizagem, pode e deve adicionar-se-lhe a
função de suporte à aprendizagem, dada a mobilização que, quando devidamente
usada, faz dos processos de memória. Processos que são, no quadro das teorias
cognitivistas, entendidos como fundamentais na aprendizagem que se designa por
activa e significativa.
A dita intervenção, que está disponível na
internet (a indicar aqui logo que possível) e em livro, tem por título Aprendizagem
com base na recuperação: a recuperação activa promove uma aprendizagem
significativa e começa assim:
"Embora não lhe seja conferido o
papel central que merece, a recuperação é o processo-chave para perceber a
aprendizagem e promovê-la. A aprendizagem é tipicamente identificada com a
codificação ou construção de conhecimento, e a recuperação é considerada como
uma mera avaliação de uma aprendizagem adquirida em experiência anterior. A
aprendizagem baseada na recuperação como é aqui gizada baseia-se no facto de
todas as expressões de conhecimento envolverem recuperação e dependerem dessa
recuperação de pistas disponíveis num contexto particular. Além disso, cada vez
que alguém recupera conhecimento, esse conhecimento é modificado, pois recorrer
à recuperação melhora a capacidade de recuperar novo conhecimento no futuro.
Praticar a recuperação não produz uma aprendizagem rotineira e momentânea;
produz uma aprendizagem significativa e de longo prazo. No entanto, a prática
da recuperação é uma ferramenta que muitos estudantes, cuja consciência
metacognitiva desconhecem, não utilizam tantas vezes como deveriam. A recuperação
activa é uma estratégica efectiva mas subvalorizada para promover uma
aprendizagem significativa.
Para entender a aprendizagem é essencial perceber os processos envolvidos
em recuperar e reconstruir o conhecimento. Podemos pensar que sabemos algo, que
as nossas mentes contêm ou possuem algum conhecimento, mas a única forma de
examinar o conhecimento é envolver-se no acto de recuperação. As diferenças na
capacidade de recuperar conhecimento poderão não advir não do que está
«armazenado» nas nossas mentes, mas sim de diferenças nas pistas de recuperação
que estão disponíveis em contextos particulares. Dada a importância fundamental
da recuperação para entender a aprendizagem, é surpreendente que os processos
de recuperação não tenham recebido mais atenção na pesquisa educacional."
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