segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Activa e significativa, assim se quer a aprendizagem


Organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, realizou-se hoje na Faculdade de Psicologia e de Ciências das Educação da Universidade de Coimbra uma conferência intitulada Avaliação dos alunos.

A primeira intervenção nessa conferência foi feita por Jeffrey D. Karpicke, investigador principal do Laboratório de Cognição da Aprendizagem da Universidade de Purdue, Estados Unidos da América. Na linha de trabalho de autores como R.E. Mayer e de H.L. Roediger, este psicólogo interessa-se pelo estudo duma questão relativamente nova mas já entendida como de grande importância em matéria de avaliação académica: a contribuição desta avaliação para a própria aprendizagem.

Assim, às funções clássicas da avaliação académica (diagnóstica, formativa e sumativa), vocacionadas para a verificação da aprendizagem, pode e deve adicionar-se-lhe a função de suporte à aprendizagem, dada a mobilização que, quando devidamente usada, faz dos processos de memória. Processos que são, no quadro das teorias cognitivistas, entendidos como fundamentais na aprendizagem que se designa por activa e significativa.

A dita intervenção, que está disponível na internet (a indicar aqui logo que possível) e em livro, tem por título Aprendizagem com base na recuperação: a recuperação activa promove uma aprendizagem significativa e começa assim:


"Embora não lhe seja conferido o papel central que merece, a recuperação é o processo-chave para perceber a aprendizagem e promovê-la. A aprendizagem é tipicamente identificada com a codificação ou construção de conhecimento, e a recuperação é considerada como uma mera avaliação de uma aprendizagem adquirida em experiência anterior. A aprendizagem baseada na recuperação como é aqui gizada baseia-se no facto de todas as expressões de conhecimento envolverem recuperação e dependerem dessa recuperação de pistas disponíveis num contexto particular. Além disso, cada vez que alguém recupera conhecimento, esse conhecimento é modificado, pois recorrer à recuperação melhora a capacidade de recuperar novo conhecimento no futuro. Praticar a recuperação não produz uma aprendizagem rotineira e momentânea; produz uma aprendizagem significativa e de longo prazo. No entanto, a prática da recuperação é uma ferramenta que muitos estudantes, cuja consciência metacognitiva desconhecem, não utilizam tantas vezes como deveriam. A recuperação activa é uma estratégica efectiva mas subvalorizada para promover uma aprendizagem significativa. 
Para entender a aprendizagem é essencial perceber os processos envolvidos em recuperar e reconstruir o conhecimento. Podemos pensar que sabemos algo, que as nossas mentes contêm ou possuem algum conhecimento, mas a única forma de examinar o conhecimento é envolver-se no acto de recuperação. As diferenças na capacidade de recuperar conhecimento poderão não advir não do que está «armazenado» nas nossas mentes, mas sim de diferenças nas pistas de recuperação que estão disponíveis em contextos particulares. Dada a importância fundamental da recuperação para entender a aprendizagem, é surpreendente que os processos de recuperação não tenham recebido mais atenção na pesquisa educacional."


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