sábado, 13 de abril de 2013

Chegará a Garcia, esta carta?

Biografia aqui
Houve, em tempos, na TV, um trio de mal-dizer com enganoso sucesso inicial. Era constituído por Medina Carreira, João Duque e Nuno Crato. Este foi o primeiro a desertar: passou a gestor, depois a ministro. Que tem feito desde então? Tem banido professores e vai impondo o seu “eduquês” à Educação. Quatro exemplos apenas: — Começando pela parte terminal de um processo (o do ensino-aprendizagem), convencido de que “avaliar” é “examinar” e de que está aí a panaceia universal, aumentou o número de provas de exame (como o dos alunos por turma) e tenciona continuar. — Paladino da quantificação (é matemático!), vai submeter os pequenos aprendizes de leitura a tabelas com sucessivos mínimos de palavras por minuto (mínimos de carácter eliminatório). — Decidiu que, já em Maio próximo, as crianças do 4º ano terão de ser deslocadas para fazer os seus primeiros exames em escola/colégio diferente da/ do que frequentam (problema de desconfiança nas vigilâncias? Leia o artigo de Ana Maria Bénard da Costa no PÚBLICO de 20/3). — Determinou que os alunos do 12º ano passem a ser examinados sobre a totalidade dos conteúdos leccionados no decurso dos três anos do secundário, evidenciando (o ministro) uma enorme ignorância ou uma régia indiferença perante a “brutalidade” das matérias programáticas em causa (a de História, por exemplo, abrange nove volumes do compêndio mais divulgado e um total de 1610 páginas!).
Nuno Crato costuma recordar, com orgulho, o seu Liceu Pedro Nunes. Foi também o meu, há muitos anos. Encontrei aí dois dos três melhores professores que tive, em todo o meu percurso académico: Jaime Leote e Rómulo de Carvalho (o terceiro foi Augusto Abelaira, noutro liceu). Tinham, além de um imenso saber, uma infinita capacidade de entender e de comunicar. Eram humanistas, tolerantes, atentos às pessoas, às diferenças, ao presente, ao futuro. Não uns pequenos entes anacrónicos, fixados no pior do passado no ensino: o enciclopedismo e o rigorismo (em vez do rigor). Se esses professores ainda estivessem entre nós, como avaliariam o desempenho do ministro? A tolerância tem limites. 
Maria José Heitor Cortesão professora, Almada

(Público de 11-04-2013)

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