quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Este é o primeiro dia



Hoje, 
será o fim! 

Hoje 
nem este falso silêncio 
dos meus gestos malogrados 
debruçando-se 
sobre os meus ombros nus 
e esmagados! 

Nem o luar, pano baço de cenário velho, 
escutando 
a minha prisão de viver 
a lição que me ditavam: 
- Menino! acende uma vela na tua vida, 
que o sol, a luz e o ar 
são perfumes de pecado. 
Tem braços longos e tentadores – o dia! 

- Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço 
que teus pés 
são feitos de barro e cansaço! 

(Era esta a voz do papão 
pintado de belo 
na máscara de papelão). 

Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua... 
Noites de lua 
que lembravam as grilhetas 
da minha vida parada. 

- Amanhã, 
terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros 
e o espectáculo da morgue 
morando durante dias 
nos teus sentidos gorados. 

Amanhã, 
será o ultrapassar outra curva 
no teu caminho destinado. 

(Era esta a voz do papão 
que acendia a vela, tinha regaço de sombra 
e velava 
as noites da minha rua e a minha vida 
e pintava-se de belo 
na máscara de papelão). 

Hoje, 
será o fim! 

Fernando Namora

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