1. As pessoas com
deficiência só se interessam por assuntos ligados à deficiência.
Muitas pessoas com deficiência
terão certamente um interesse acrescido por esta temática, porque se
identificam com ela mas, como os demais cidadãos, têm uma variada panóplia de
interesses. É importante que os jornalistas tenham em mente que entre o seu público
leitor/espectador/ouvinte estão pessoas com deficiência ou incapacidade e,
consequentemente é importante incluírem no seu trabalho informações que sejam
relevantes e acessíveis para estas pessoas.
2. As pessoas com deficiência não são activas.
Poderá ser verdade nos casos
mais graves, ou nos casos em que o meio envolvente não oferece condições que
permitam a autonomia No entanto, em regra, as pessoas com deficiência
trabalham, fazem desporto, viajam, constituem família e podem ter uma vida tão
activa como qualquer outro cidadão. Cada caso é um caso, mas a inactividade não
é, de forma alguma, a regra. Apenas é, talvez, mais vezes mostrada na
comunicação social.
3. As pessoas com Paralisia Cerebral têm
deficiência intelectual.
Pode acontecer, mas não é a
regra. A designação deste problema – Paralisia Cerebral – pode levar a esse
engano, mas o que se passa na realidade é que a zona do cérebro que coordena
certas partes do corpo (os movimentos, fala…) está afectada. Portanto, trata-se
de um problema eminentemente físico, e não intelectual ou mental. É importante
ter isto em conta na forma como lidamos com pessoas que têm este problema.
Muitas vezes, a articulação das palavras está comprometida e é difícil
compreender o que dizem, mas é importante lembrar que se trata apenas de uma
questão física.
4.
Acessibilidade [só] significa ausência de barreiras arquitectónicas.
Também, mas não só. A
acessibilidade é um conceito muito complexo e diversificado – tanto quanto as
necessidades especiais de cada pessoa. Pode ser física, sensorial, ou ao nível
da informação. Damos um exemplo: em Portugal, existe o GAM, Grupo para a
Acessibilidade aos Museus, um conjunto de profissionais de diversos espaços
museológicos que procuram torná-los acessíveis a todos os públicos. E, por
isso, muitos museus portugueses já contemplam oferta acessível a todos os
públicos – além da ausência de barreiras físicas, ou das alternativas para
transpor estas barreiras, existem legendas em Braille; peças para tocar por
quem não as pode ver; áudio-guias que as explicam (e que podem ser úteis a
pessoas com e sem deficiência visual); pavimento táctil no chão para orientar
quem não vê e usa bengala; vídeo-guias [interactivos] com língua gestual, a
explicar as peças a pessoas surdas, catálogos em Braille, ou em linguagem
fácil, para ser compreendida por todos (pessoas com deficiência intelectual,
idosos pouco letrados, crianças…). A acessibilidade é uma mais-valia para
todos, pois facilita a circulação e a apreensão de conteúdos por todos, sem
excluir ninguém.
5. A
acessibilidade é importante apenas para pessoas com deficiência.
Não é verdade. No que toca à
acessibilidade física, é facilitadora para pessoas com deficiência e – não
esquecer – seus acompanhantes, que assim evitam esforços extra; é ainda facilitadora
para pessoas idosas, cuja agilidade já não é o que era; para quem tem uma
limitação física temporária, por exemplo por ter partido um membro inferior;
para quem empurra carrinhos de bebés, ou transporta pesadas malas com (ou sem)
rodas; facilita cargas e descargas de material… enfim, a acessibilidade física
facilita a vida de muitas pessoas. A acessibilidade na informação também serve
todas as pessoas – um texto em linguagem fácil pode ser entendido por todos sem
excepção, e é especialmente adequado para quem tem deficiência intelectual,
baixa literacia, ou ainda para crianças. A acessibilidade sensorial também pode
ser utilizada por Todos ou, mesmo que não o seja, não interfere nem prejudica
quem não a utiliza.
6. As
pessoas com deficiência têm quase sempre poucos recursos financeiros.
Essa é uma ideia muito
veiculada pelos casos – dramáticos – apresentados na comunicação social. Mas
não corresponde necessariamente à realidade. As crianças com deficiência nascem
em qualquer família, as pessoas milionárias também têm acidentes, envelhecem e
perdem faculdades, e larga fatia dos cidadãos com deficiência trabalha,
portanto tem tantos recursos como a restante população. [É contudo verdade que
existem frequentemente despesas elevadas, acrescidas ao facto de se ter
qualquer tipo de deficiência, como a necessidade de ajudas técnicas/produtos de
apoio, terapias, operações específicas e especializadas... e que mesmo pessoas
com razoáveis recursos têm dificuldade em custear].
7. Tratar o tema da deficiência é deprimente.
Se apenas nos centrarmos em
casos extremos, poderá ser, claro. A dor alheia toca-nos inevitavelmente. Mas a
deficiência não se resume a casos extremos e dramáticos (muitas vezes
associados a pobreza), e é um erro pensar que a maioria das pessoas com
limitações físicas ou sensoriais vive amargurada com o facto de terem uma
deficiência. Trabalham, têm família, hobbies, e fazem o mesmo que os restantes
cidadãos – apenas de maneira diferente. Há pessoas com deficiência a praticar
vela, ténis, canoagem, basquetebol, a trabalhar em áreas tão diferentes como a
área jurídica, o cinema e a televisão, enologia, ou a dar aulas ou consultas
médicas, a fazer voluntariado para ajudar outras pessoas… a ultrapassar
limitações e a ter vidas interessantes!
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