A notícia é recorrente: há falta de
psicólogos em várias estruturas do sistema público. “Faltam 1600 psicólogos no
SNS”, titulava o Expresso, na sua edição de 10 de outubro. E o artigo divulgava
a denúncia da Ordem dos Psicólogos sobre a falta de cerca de 1600 psicólogos
nos cuidados de saúde primários e nos hospitais. Parece que as informações
oficiais nos relatam que existe um psicólogo por cada agrupamento de centros de
saúde, mas isso só demonstra a escassez de recursos.
Sabemos que em Psiquiatria existe uma
dificuldade de acesso aos serviços. Dos muitos doentes que necessitariam de
cuidados psiquiátricos, só uma pequena parte recebe o tratamento adequado.
Muitas pessoas permanecem sem apoio na comunidade, outras são encaminhadas para
o médico de família e eventualmente para um psicólogo, mas, com a complexidade
das perturbações mentais e perante a falta de articulação de serviços, é
inquestionável que muitas não recebem a intervenção terapêutica necessária.
Alguns psicólogos dos centros de saúde
beneficiariam de maior apoio dos serviços de Psiquiatria. Sem nunca esquecer a
necessária autonomia daqueles técnicos, existem muitas perturbações mentais nos
cuidados primários a precisar de consulta de psiquiatria, para além do
atendimento em Psicologia. Falta de psicólogos e dificuldades de acesso ao
psiquiatra conduzem assim a uma grave carência de tratamento das perturbações
mentais.
A Ordem dos Psicólogos propôs há dois
anos o denominado “cheque-psicólogo”, à semelhança do que já existe em medicina
dentária. Segundo o Expresso, os cheques, no valor unitário de 40 euros, seriam
emitidos pelo médico de família e destinavam-se aos utentes sem acesso a
consultas de psicologia no sistema público. Esta medida provisória teria como
objectivo levar mais pessoas a tratamentos de Psicologia e por isso seria
positiva a sua concretização, mas tal não aconteceu. No entanto, não basta
marcar mais consultas de Psicologia, com ou sem cheque. Os tratamentos de
psicoterapia, a realizar por psicólogos, têm indicações precisas, determinadas
pelo diagnóstico e pelas características de personalidade de cada utente, não
devendo ser prescritos apenas de maneira burocrática.
Se no sistema de saúde a situação é má,
no sistema escolar é ainda pior. Muitas escolas não têm psicólogo e noutras o
técnico tem de dividir a sua actividade por vários estabelecimentos de ensino,
o que o leva a correr de um lado para o outro, sem conseguir ter uma acção
sustentada em lado nenhum. Tenho defendido a existência, em cada escola, de um
responsável pelo aconselhamento e orientação dos alunos, em ligação directa com
os professores e com a direcção da escola. Teria uma função semelhante à do
counselor, no modelo escolar anglo-saxónico, papel que o psicólogo escolar
desempenharia com especial competência: um assunto adiado para o próximo
governo.
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