quarta-feira, 13 de março de 2013

"Viver não é apenas mudar, é continuar." (Pierre Leroux)

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Quando uma criança ingressa no sistema de ensino, traz já uma herança que a diferencia das outras. Dificuldades nos primeiros anos do ensino básico deveriam ser imediatamente sinalizadas e intervencionadas. Mas se a saúde e a proteção de menores não derem uma resposta atempada, adequada no foco e na intensidade, os problemas persistirão. A experiência do terreno mostra que o acesso a tratamentos de saúde mental escasseia no país e as medidas de proteção dos menores pecam muitas vezes por serem demasiado brandas ou chegarem tarde (quando chegam!). Quantos profissionais ou equipas existem capazes de intervir sobre famílias no desenvolvimento de competências de parentalidade? E quantos técnicos devidamente qualificados estão disponíveis para intervir com os alunos, procurando atenuar as diferenças e ultrapassar as dificuldades?
A generalidade das estratégias adotadas para reduzir o insucesso passa por maior tempo de aulas ou estudo acompanhado, por intervenções e pelo encaminhamento para currículos alternativos. São encaminhados para currículos profissionalizantes alunos que não revelam dificuldades cognitivas mas que levarão consigo os mesmos problemas de regulação emocional e comportamental que manifestavam anteriormente. Este amadorismo reinante e a ausência de técnicos qualificados que auxiliem a escola na intervenção com alunos “difíceis” têm levado ao recurso a uma série de estratégias que, em vez de promoverem a adesão do aluno à escola, mais parecem contribuir para acentuar a diferença, a alienação da escola e, a longo prazo, a exclusão.
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O ensino profissionalizante não deve repetir o que acontece atualmente com muitos alunos de cursos CEF, que só foram encaminhados para esta modalidade devido a problemas comportamentais ou motivacionais. A escola deveria saber lidar com alunos problemáticos e malcomportados. Não pode continuar a resolver as dificuldades encaminhando-os para modalidades de ensino percecionadas como mais fáceis. Menos ainda legitimar tomadas de decisão apressadas com base na crença de que estamos a preparar bem estes jovens para a vida. Qual vida?
 (Daniel Rijo, Público de hoje)

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