quinta-feira, 14 de março de 2013

Deitar tarde é a antecâmera do insucesso escolar


O presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono alertou hoje para a falta de horas de sono das crianças e disse que as dificuldades económicas contribuem para o aumento dos casos de perturbações no sono, sobretudo ligadas a depressão ou situações de ansiedade.
"Nos últimos tempos tem-se observado um aumento da prevalência de casos de depressão, ansiedades, de dificuldades de sono" entre os adultos e, quando se geram estes problemas relacionados com a crise, a tendência é que "perdurem durante algum tempo e se tornem uma doença crónica", referiu Miguel Meira e Cruz.
(...) o especialista sublinhou também a falta de regras para dormir no caso das crianças. "Há muitas crianças que, pela permissividade dos pais ou por doenças relacionadas [com o ato de dormir] estão privadas do sono e, por isso, desenvolvem patologias no âmbito da hiperatividade, problemas de desenvolvimento e crescimento", realçou.
A situação de crise, com a preocupação e ansiedade dos adultos aliada à falta de tempo, "está com certeza a ter consequências" também no sono dos miúdos e "é muito frequente os pais não se preocuparem em controlar os hábitos [de dormir] dos filhos", frisou o investigador do Laboratório de Função Autonómica Cardiovascular da Faculdade de Medicina de Lisboa.
O especialista falava (...) a propósito do Dia Mundial do Sono, que se assinala na sexta-feira, uma data que a associação vai aproveitar para organizar várias ações informativas sobre a importância de um bom sono e da identificação de doenças relacionadas.
O conjunto de atividades arrancou na segunda-feira e prolonga-se por toda a semana, principalmente em escolas, para chegar às crianças e adolescentes. A Associação também pretende sensibilizar os profissionais de saúde, primeiro contacto com os doentes, para a importância de obter informações sobre a qualidade do sono dos portugueses.
"Cresce o número de doentes com insónia, caracterizada pela dificuldade de dormir, não conseguir manter o sono durante a noite, acordar cedo demais ou ter um sono pouco reparador. A insónia, que muitas vezes é temporária, numa situação normal, num tempo de crise como aquele que estamos a atravessar, perdura durante algum tempo e torna-se uma doença crónica", alertou o investigador.
Miguel Meira e Cruz realçou a necessidade de ensinar aos miúdos a importância do sono, por exemplo, ao nível do desenvolvimento, explicando:"A hormona do crescimento produz-se durante a noite, enquanto estão a dormir".
Quando questionado acerca do número de horas de sono adequado para as crianças, o especialista disse que varia de caso para caso. "Há miúdos que precisam de dormir nove horas, outros 10 horas, há um mínimo que o organismo preciso para recuperar e isso é individual". O problema é que "este mínimo, muitas vezes, não existe porque as pessoas cada vez estão acordadas até mais tarde", alertou.
"Temos um relógio biológico muito assertivo e quando não cumprimos as exigências para que estamos preparados naturalmente há avarias e desregulações várias nos sistemas do organismo", explicou o especialista, salientando que "o sono é um hábito que deve ser regular" nos adultos e nas crianças e implica um treino.
O investigador avançou que, o mínimo de horas de sono para a criança entre os seis e 12 anos estar alerta, bem-disposta e para aprender é de cerca de 10 horas por noite, o que "raramente é cumprido" pois muitos pequenos de seis anos dormem sete horas ou sete horas e meia.
Nesta idade, a privação de sono "está associada a défices neurocognitivos", como dificuldades na aprendizagem, "perturbações muitas vezes confundidas com hiperatividade e défice de atenção", disse.
In: Sol online

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