O
post de hoje traz um artigo de
Janeiro deste ano da revista Today's Dietitian e que aborda a temática da
ligação frequente entre a Doença Celíaca e a Diabetes Tipo 1, o que tem sido
atribuído a uma causa genética comum. Dada a sua extensão, traduzi apenas
algumas partes.
"Sem
Glúten Com Diabetes Tipo 1
Um
diagnóstico de diabetes tipo 1 exige mudanças de estilo de vida, que incluem
alterações alimentares, actividade física regular e um rigoroso regime de
medicação. Um diagnóstico de doença celíaca também requer mudanças
significativas de estilo de vida que envolvem uma dieta isenta de glúten (DIG).
Cada
doença é difícil de gerir individualmente, mas se ambas são diagnosticadas,
simultaneamente ou com anos de diferença, a vida dos afectados pode tornar-se
ainda mais complicada. (...)
Diabetes
Tipo 1 e Doença Celíaca
A
Associação Americana de Diabetes relata que cerca de 1% da população dos EUA
tem doença celíaca, enquanto que cerca de 10% das pessoas que têm diabetes tipo
1, também têm doença celíaca. Vários estudos têm explorado a possível ligação
entre estas duas condições.
Um
estudo de 2002 por Barera e colegas publicado na revista Pediatrics investigou
a prevalência de doença celíaca em 274 crianças e adolescentes no início da
diabetes tipo 1 e a ocorrência de novos casos durante um período de seis anos
de acompanhamento. Os pesquisadores descobriram que a prevalência de doença
celíaca em pacientes com diabetes tipo 1 foi aproximadamente 20 vezes maior do
que na população em geral. "A prevalência de doença celíaca confirmada por
biópsia em toda a coorte de pacientes foi de 6,2%", escreveram os autores.
Estes concluíram que "60% dos casos de doença celíaca já estão presentes
no início da diabetes, maioritariamente por diagnosticar, mas os restantes 40%
desenvolvem a doença celíaca alguns anos após o início da diabetes."
A
pesquisa sugere que a diabetes tipo 1 e a doença celíaca compartilham uma
etiologia genética. O Instituto Nacional de Saúde informou num artigo de
Fevereiro de 2013, "Pesquisa Encontra Partilha Genética de Susceptibilidade
entre a Doença Celíaca e Diabetes Tipo 1 - Campanha de Consciencialização da
Doença Celíaca", que "um número crescente de pesquisas sugere que a
diabetes tipo 1 é desencadeada pela exposição ao glúten... Adicionando ainda
mais peso à teoria de que as duas condições compartilham causas genéticas
comuns. "
O
artigo referia-se aos resultados de um estudo britânico publicado em 25 de
Dezembro de 2008, na edição do The New England Journal of Medicine.
De acordo com esses investigadores, "Duas desordens inflamatórias,
diabetes tipo 1 e doença celíaca, co-segregam em populações, sugerindo uma
origem genética comum." Concluíram que "uma susceptibilidade genética
para tanto a diabetes tipo 1 e doença celíaca partilham alelos comuns [locais
num cromossoma]. Estes dados sugerem que mecanismos biológicos comuns, tais
como o dano tecidual relacionado com auto-imunidade, e a intolerância a
antigénios alimentares, podem ser características etiológicas [causais] das
duas doenças."
O
estudo alemão BABYDIAB, publicado na edição de Outubro de 2003 do The
Journal of the American Medical Association, seguiu recém-nascidos entre
1989-2003 e examinou se a introdução precoce de alimentos que contêm glúten
influenciou o risco de desenvolver diabetes tipo 1 e auto-anticorpos da doença
celíaca. Os pesquisadores descobriram que a suplementação alimentar com
alimentos que contenham glúten antes da idade de três meses aumentou
significativamente o risco de auto-anticorpos da diabetes tipo 1, mas que a
exposição precoce ao glúten não aumentou significativamente o risco de
desenvolver auto-anticorpos da doença celíaca.
O
Estudo TEDDY (The Environmental Determinants of Diabetes in the Young-
Os Determinantes Ambientais da Diabetes nos Jovens) iniciado em 2002, é o
acompanhamento de cerca de 8.000 crianças na Europa e América do Norte,
investigando possíveis gatilhos para a diabetes tipo 1, incluindo a doença
celíaca. Jill Norris, PhD, MPH, presidente do departamento de epidemiologia da Colorado
School of Public Health e uma das investigadoras do estudo, diz que o
Estudo TEDDY faz o rastreio da autoimunidade celíaca por causa do risco de
diabetes tipo 1 em pessoas diagnosticadas com a doença celíaca. Ela acredita
também que a diabetes tipo 1 e a doença celíaca partilham um marcador genético
e diz que o Estudo TEDDY está à procura de factores ambientais compartilhados,
incluindo factores dietéticos.
Há
uma ligação com a diabetes tipo 2?
Enquanto
as pesquisas sugerem uma associação entre diabetes tipo 1 e doença celíaca, não
parece haver uma ligação entre a doença celíaca e a diabetes tipo 2, uma vez
que esta não é uma doença auto-imune e não compartilha genes com a doença
celíaca. De acordo com a Celiac Sprue Association, os indivíduos
podem ser geneticamente predispostos a diabetes tipo 2, mas esses genes não
aumentam o risco de doença celíaca. (...)
Efeitos
do glúten na glicémia
Os
diabéticos tipo 1 com doença celíaca que fazem uma dieta sem glúten não só se
sentem melhor, mas também têm leituras glicémia mais estáveis. Em pessoas com
doença celíaca, o glúten impede a absorção de hidratos de carbono no intestino,
o que, muitas vezes, causa inexplicáveis picos de açúcar no sangue, explica a
dietista Linda Reineke, que trabalha com pacientes com diabetes tipo 1 e doença
celíaca, enquanto parte do programa de diabetes do University of New
Mexico Hospital. Outros componentes dos alimentos também afectam as
flutuações de açúcar no sangue, quando combinados com a ingestão de hidratos de
carbono. Por exemplo, a gordura retarda a digestão. "Às vezes, os
alimentos são absorvidos, outras vezes não, dependendo da diversidade na
refeição", explica.
Esta
especialista, enquanto seguia um cliente com diabetes tipo 1 ao longo de vários
anos, encontrou-se constantemente com níveis variáveis de glicémia. Um colega
na sua equipa sugeriu que o paciente poderia ter doença celíaca. "Ele foi
testado e tinha anticorpos positivos para a doença celíaca", lembra.
"Assim que começou a ingerir alimentos sem glúten, a sua glicémia ficou
muito melhor." (...)
Desafios
ao evitar o glúten
No
entanto, eliminar todos os alimentos que contenham glúten duma dieta pode
complicar a maioria dos aspectos da vida dos pacientes com diabetes tipo 1.
Estes fazem a contagem de hidratos de carbono antes de comer as refeições e, em
seguida, comparam-nos com a dose de insulina correcta. Eles também devem ter em
conta a ingestão de proteínas e fibras alimentares. Isto representa um desafio,
porque muitos alimentos processados sem glúten são ricos em hidratos de carbono, mas
pobres em proteínas
e fibras. (...)
Educação
do Paciente
Em
última análise, a educação é a chave para viver bem com diabetes tipo 1 e
doença celíaca. Os pacientes precisam de estar bem informados sobre as duas
doenças e saber geri-las através da actividade física, medicamentos e
nutritivos alimentos sem glúten que se encaixam num plano de refeições amigo da
diabetes.
-
Karen Meadows, MA, MS, CDE, é uma escritora freelance, do Novo México, que vive
bem com diabetes tipo 1 e doença celíaca."
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