Saiu, este Verão, um novo estudo da
Universidade McMaster, no Canadá, que procura esclarecer mais um pouco como se
desenvolve a doença celíaca. Aqui, a "acusação" pende mais para a
culpabilidade do microbioma errado, uma via de investigação já há muito
abordada pelo Dr. Alessio Fasano e a sua equipa. A questão fulcral é saber se
estimulando o desenvolvimento de um microbioma intestinal "bom" se
consegue restaurar a tolerância ao glúten, havendo que esclarecer também quais
são as bactérias que interessam promover para esse efeito. Para já, a ciência
parece estar a caminhar a bom ritmo na direcção certa. Artigo daqui.
"Causas da Doença celíaca: as
bactérias do intestino podem determinar se vai desenvolver a doença
Um novo estudo revelou que o glúten, que
é conhecida por danificar o intestino delgado das pessoas que sofrem de doença
celíaca, pode ser metabolizado pelas bactérias intestinais quando as enzimas
falham na sua digestão.
No estudo publicado online na revista
Gastroenterology, os investigadores da Universidade McMaster no Ontário,
Canadá, descobriram que os ratos com presença de bactérias Pseudomonas Aeruginosa
(PSA), isoladas de pacientes com doença celíaca, metabolizaram o glúten - uma
proteína encontrada em cereais como trigo, centeio e cevada - de forma
diferente de ratos que tinham sido tratados com Lactobacillus.
A doença celíaca é uma desordem auto-imune
genética, na qual o paciente é incapaz de digerir o glúten completamente,
levando a uma resposta imune em que os anticorpos atacam os órgãos internos
tais como o intestino delgado. Isso danifica as vilosidades que permitem a
absorção de nutrientes no intestino delgado, fazendo com que o corpo do
paciente perca nutrientes como ferro, ácido fólico, cálcio, vitamina D,
proteína, gordura e outros compostos alimentares que são essenciais.
A Fundação da Doença Celíaca, com sede
na Califórnia, estimou que a doença afecta 1 em cada 100 pessoas em todo o
mundo, enquanto nos Estados Unidos quase 2,5 milhões de pessoas ainda não foram
diagnosticadas, expondo-os ao risco de complicações de saúde a longo prazo.
Ao estudar a química do metabolismo do
glúten através da PSA e Lactobacillus, os investigadores descobriram que as
Lactobacillus foram capazes de desintoxicar o glúten, enquanto as PSA
produziram sequências de glúten que mostraram semelhanças com a inflamação em
pacientes com doença celíaca.
"Assim, o tipo de bactérias que
temos no nosso intestino contribui para a digestão do glúten, e a forma como
esta digestão é realizada poderia aumentar ou diminuir as hipóteses de
desenvolver a doença celíaca numa pessoa com risco genético", disse a
autora principal do estudo, a Dra. Elena Verdu, professora associada da Escola
de Medicina Michael G. DeGroote da Universidade McMaster, num comunicado de
imprensa.
"A doença celíaca é causada pelo
glúten em pessoas geneticamente predispostas, mas as bactérias no nosso intestino
podem fazer pender a balança nalgumas pessoas para desenvolver a doença ou
manter-se saudável", explicou ela.
Actualmente não há cura para a doença,
sendo o único tratamento disponível uma dieta rigorosa, isenta de glúten para
toda a vida. A Dra. Verdu, no entanto, disse: "Podemos estar mais perto de
compreender a forma como as bactérias do intestino e os patogéneos
oportunistas, tais como a PSA, podem afectar o risco de doença celíaca. Isto
ajudar-nos-á a desenvolver estratégias para prevenir estes transtornos, mas é
necessária mais investigação."
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